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03 fevereiro 2014

TEMPO 3 - A Ganância



Este é o quarto e ultimo texto da historia iniciado como o título de "Os três TEMPOS e os Novos BÁRBAROS".
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Profissão: CORRETORA DE IMOVEIS



Logo que eu tomei a decisão de sair da prefeitura, veio também à vontade de mudar de país... a ideia foi logo compartilhada pelo meu marido. Eu sonhava em ir para algum lugar onde as coisas funcionassem de melhor forma e onde eu tivesse mais oportunidades. Foi então que descobri o processo de imigração pro Canadá.

Um dos pré-requisitos para dar entrada no processo era falar o francês (uma das línguas oficiais do Canadá). Sendo escola de francês pouco comum no interior, mudar de volta para Belo Horizonte seria o próximo passa em direção ao nosso desejado futuro. 


Para recomeçar em Belo Horizonte, o convite de um amigo de minha irmã pra trabalhar como corretora num loteamento do Alphaville Lagoa dos Ingleses foi muito bem vindo. Enquanto trabalhava, me preparava para passar no processo de imigração. Neste tempo eu fiz o curso de corretor em SP e tirei meu certificado de trabalho (CRECI). 

Entrada do condomínio Alphaville Lagoa dos Ingleses


Do Alphaville na lagoa dos Ingleses fui para o Villa da Serra... 


Corretor é um profissional autônimo no Brasil, mesmo tendo que ser fiel a empresa onde trabalha e seguir os horários e as normas impostas pela empresa, a única remuneração que ele tem é a comissão quando a venda é fechada. No mais, tudo sai do seu próprio bolso! Tudo! E não é pouco. A única prova que ele tem que trabalha numa empresa é o contrato de prestação de serviço, mas isso não lhe garante um salário nem a comissão.  E é assim que funciona o trabalho do corretor no Brasil! Sem garantias e com muita dedicação.

Com os corretores aprendi que, pra conseguir uma venda, a disputa pelo cliente pode ser traiçoeira. Mas com os donos das corretoras (nem todos) aprendi que a ganância não tem limite. Vou me explicar.

Trabalhava no lançamento de alguns prédios numa região muito valorizada, o Villa da Serra... os preços dos apartamentos eram de, no mínimo, um milhão de reais. A venda de lançamento de um novo empreendimento estava marcada para um dia x. Anteriormente a data, em reunião com os corretores, foi passado os valores das comissões (o que já era um pouco abaixo do valor de mercado). Mas enfim, o que é combinado não é caro. Além da comissão estipulada, também foi prometida premiação e muitas vantagens para quem vendesse... todos saíram de lá entusiasmadíssimos!


O dia do lançamento se passou em clima de festa e boas vendas foram concluídas.


Lançamento Cinecittá - Fechamento de vendas comemorado com champanhe!

 Alguns dias após as vendas, quando ainda eufóricos fazíamos nossa contabilidade, outra reunião foi anunciada. E com outra novidade! Aconteceu que nesta reunião além deles anunciarem que não iriam pagar os prêmios prometidos eles também disseram que iriam dividir em dose vezes o valor da nossa comissão que o cliente pagou a vista! Simples assim, em alto e bom som, para quem estivesse presente não ter duvida que eles estavam anunciando um roubo! Na maior cara de pau!

Como eram conhecidos investidores da bolsa de valores, a conclusão que se chegou foi que quando os famigerados empresários viram o montante do dinheiro das vendas mudaram os planos. Eles pegaram a comissão dos corretores, investiram o montante de todo mundo na conta deles e resolveram que iriam modificar a forma de nos pagar, seria sem juros, sem correção e ainda parcelado em doze vezes iguais! Sem cheque pré-datado, e sem nenhuma garantia do pagamento. Decidiram mudar e ponto final. 


 
Stand de vendas - Villa da Serra
 Alguns corretores que tinham investido tempo e dinheiro neste empreendimento e há mais de meses não efetuavam uma venda sequer, começaram a se desesperar! Uns começaram a discutir, outros a chorar! Eu tentei argumentar na reunião, mas sem sucesso e fervendo de raiva, fui embora. Eu não podia acreditar que estava ganhando um calote daquele tamanho! Parecia tudo meio surreal, na verdade não tínhamos garantia nem que iríamos receber... a única coisa que comprovava a venda que os corretores tinham feito, o qual lhe daria direito a comissão era um papel de compromisso de venda assinado pelo cliente. Toda negociação era terminada com um dos gerentes ou donos da corretora e com eles estava a real prova da venda.





Apartamento decorado com vista para as montanhas
Alguns dias depois eu marquei uma reunião com os donos da corretora com o argumento de tratar de uma venda. Não sei como eu consegui conter a raiva de minhas palavras, mas a conversa transcorreu de certa forma amena apesar de eu sentir que tinha a fúria de um touro nos olhos. Eu estava disposta a receber meu dinheiro na justiça, se assim fosse preciso. Mas não foi. Eu fui firme e exigi o combinado! Anunciei que teria que deixar a empresa deles e que precisava do dinheiro! Até hoje não sei como que eu consegui sair com o cheque de lá. 

O pagamento foi dividido em duas ou três vezes, não me lembro, eu sai com o dinheiro na mão... mas foi por pouco! Não sei se meus colegas tiveram a mesma sorte. Não procurei mais saber sobre isso. Eu só queria sair dali correndo, sem olhar para trás...


Não foi simplesmente azar! Sei que isso acontece com mais frequência do que imaginamos. 


Daquele dia em diante me ocupei com os últimos preparativos para minha viagem de imigração...


fim.

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