Os últimos dias que antecederam a viagem foram
exaustivos... só quem já mudou sabe como é estressante e complicado organizar
as malas, separar o que vai levar, desfazer do que não precisa, encaixotar o
que ainda não quer se desfazer e tentar achar espaço na casa de algum parente
(normalmente nossos pais) para armazená-las. Juntando a isso ainda a difícil
tarefa de dar um até logo aos amigos, parentes, colegas...
e ir deixando cada dia seu coração entre a
expectativas da nova vida e a tristeza da separação...
minha filha Luiza e algumas de nossas malas |
Foram quase três anos de preparativo, nada fácil
esperar tanto tempo para concretizar um plano. Como brasileira temos a cultura
de querer tudo pra ontem, anteontem se possível. Fazer planos em longo prazo
ainda é um aprendizado. E este foi o primeiro entre tantos outros que se
seguiram com a imigração.
Fiquei sabendo da possibilidade de imigrar
legalmente para o Canadá numa conversa informal com uma de minhas irmãs. Na
época cansada de como as coisas caminhavam na minha vida e no Brasil em geral
eu procurava soluções alternativas. Cheguei (chegamos, eu e meu marido) até a cogitar
ir para os EUA por um tempo para avaliar as possibilidades de trabalhar ilegalmente.
Parecia fácil e atrativo ganhar dinheiro na América. A ideia veio, pois todas
minhas irmãs moram lá e este tal “sonho americano” vendido pela indústria hollywoodiana
às vezes é muito tentador...
Em geral do Brasil só vemos as vantagens de
morar fora, não vemos os perrengues, as humilhações e todo o lixo que vem junto
quando se é considerado um contraventor da lei.
Muitas pessoas fazem isso, sei que é uma ideia que se compra fácil e parece
até normal... mas não é legal! Literalmente.
Na verdade é muito comodo dizer isso, quando se tem (ou se pode ter) outras opções. Mas acredito antes de tudo, que cada um deve ser consciente de suas escolhas e todas as consequências que vem com ela. Do meu lado, não julgo nem condeno ninguém que tenha tomado esta decisão,
ao contrário, acho compreensível. Mas logo vi que não queria aquela realidade
para mim, pelo menos não nesta altura da minha vida.
Eu já não era tão jovem e
inconsequente para correr certos riscos, nem para me sujeitar a qualquer coisa. Queria antes
de tudo uma vida justa, digna! No sentido literal da palavra. Viver na
ilegalidade por mais que a ideia pareça atraente, a contrapartida pode ser
assustadora e eu não me achava numa situação crítica para aguentar
qualquer coisa que viesse.
Então não
achei que seria apropriado correr o risco apesar da vontade e da facilidade que
(talvez sim, talvez não) poderia ter vivendo perto das minhas irmãs, que ao
contrário do que seria minha situação, vivem de forma legal no país.
Descartamos a ideia e seguimos com nossas
pesquisas. Já tínhamos ouvido falar da possibilidade de imigração legal para
Austrália e fomos checar. Enquanto discutíamos as possibilidades e queimávamos
os miolos tentando achar uma solução, surgiu à possibilidade de imigrar para o
Canadá e esta possibilidade parecia bem real e atraente.
BABYS BOOMMERS
O Canadá é um dos poucos países do mundo que
tem o processo de imigração aberto. Ou seja, ele não só aceita como muitas
vezes convida as pessoas a morarem lá. Mas claro, impões suas condições.
O problema do Canadá é que sua população esta
envelhecendo e a taxa de natalidade, como em outros países do primeiro mundo,
esta em declínio. Então uns dos argumentos usados pelo governo para continuar
com a imigração no país é que eles precisam de mão de obra jovem para repor o mercado
de trabalho quando a geração conhecida como os “baby boomers” se aposentarem. Será então a mão de obra importada que
irá suprir a defasagem no mercado de trabalho do país fazendo com que a
economia continue a girar e que a população cresça.
Nossos dossiês e algumas informações sobre o Canada e o Quebec |
Baby boom significa “explosão de natalidade” e
é o nome dado ao grande aumento populacional acontecido após a segunda guerra
mundial (entre 1943 e 1964). Em resumo são os filhos nascidos de famílias
numerosas, aqueles indivíduos que foram jovens durante as décadas de 60 e 70.
Entusiasmados, fomos direto ao site do governo.
O site falava sobre o processo de imigração da província do Quebec que naquele
momento concentrava esforços para angariar adeptos no Brasil. A primeira coisa
que fizemos foi responder ao questionário que avaliava nossas possibilidades de
imigração.
Fizemos varias tentativas até descobrirmos o
que precisávamos melhorar para garantir nossa vaga no processo.
Escolaridade, ok. Profissão, ok. Experiência
profissional, ok. Idade,ok. Filhos, ok
Língua francesa, zero! Inglês básico, praticamente
zero! (e etc..)
No processo de imigração tudo é uma questão de
pontuação. Às vezes você não marca ponto em uma coisa, mas marca em outra e no
final o que importa é se você consegue pontuar o mínimo para entrar com o processo.
No meu caso, o Daniel tinha algumas vantagens na pontuação então ele ficou
sendo o titular do processo.
Para quem está lendo
isso e pensa também em imigrar, leia mais aqui: IMIGRAÇÃO QUEBEC- informações gerais.
PARA SEMPRE
Eu e papai no dia do meu casamento |
Houve percalços, muitos, mas nada que me tirasse a vontade de construir uma vida nova.
Enquanto nós nos esforçamos para aprender uma
nova língua, a vida continuava e não pedia licença para andar a revelia.
Logo após meu casamento, nos primeiros dias de nossa volta a Belo Horizonte, ainda sentido o cheirinho de vida nova, a vida deu seu primeiro sinal vermelho.
Logo após meu casamento, nos primeiros dias de nossa volta a Belo Horizonte, ainda sentido o cheirinho de vida nova, a vida deu seu primeiro sinal vermelho.
Meus pais foram passar uns dias conosco pra
fazer uns exames médicos, pois estavam com passagem comprada para visitar minhas
irmãs nos EUA e queriam se certificar que tudo andava bem com a saúde. Seriam apenas alguns dias, mas quis o destino que a historia não
fosse contada apenas com alegrias.
Meu pai, que já tinha se curado de um câncer e
estava mais entusiasmado do que nunca com a vida descobriu uma metástase no músculo da
coxa esquerda, mesmo lugar de antes. Era um Sarcoma mixóide de alto grau, profundo localizado em plano muscular esquelético, provavelmente um lipossarcoma dizia o diagnóstico. Para mim um câncer horroroso que tinha que ser logo retirado! E claro, ele
teria que fazer uma cirurgia para saná-lo antes de prosseguir com seus planos.
Alguns meses se passaram e com a passagem adiada
ele segue para o que foi o seu calvário. Dele e o meu... e da minha família. A
cirurgia foi realizada e ele voltou para o nosso apartamento para se recuperar,
mas algumas complicações apareceram... e entre idas e vindas ao hospital dois
anos se foram. Sendo que no ultimo ano ele permaneceu por oito longos meses
deitado a cama no CTI do hospital. Nunca fez a viagem tão planejada, nem passou
o natal com as filhas como queria... não voltou a sua cidade, não se despediu
dos amigos, dos companheiros. Não viu pela ultima vez sua tão querida fazenda
que vezes ou outra em delírio (nos últimos tempos, já usando morfina) conversa
com algum funcionário e mandava fazer alguma coisa.
É... tem horas que a vida não nos dá escolhas.
E foi a primeira vez que eu passei por tão
grande dor!
Consegui um trabalho de corretora no Villa da
Serra, mesmo bairro do hospital, para ficar mais perto dele. Vez ou outra no
trabalho eu me pegava pensando sobre a vida e olhando o prédio onde ele estava
hospitalizado. Era uma região bonita, do seu quarto do hospital, através da
janela eu via o loteamento dos prédios em que trabalhava e pensava como rapidamente o verde
iria dar lugar ao concreto. Assim como a vida um dia poderia dar lugar à morte.
Eu e papai no meu baile de quinze anos |
As coisas andavam as avessas, meu
relacionamento com minha mãe não estava dos melhores. Gênios diferentes,
opiniões diferentes... mas enfim a
verdade é que cada pessoa reage ao sofrimento de uma forma e nada pior que levá-lo para o relacionamento com os outros. Meu pai ainda tinha força para
tentar amenizar a situação, era o que nos unia. Mas ainda assim, com o tempo
minhas visitas se espaçaram no mesmo ritmo que minha dor crescia...
No final eu estava indo uma vez por semana e
deixava as visitas diárias para minha mãe e as irmãs do papai, em especial a
tia Maria Amélia que não faltou um dia sequer.
Meu pai também pertenceu à geração dos “babys
bommers”, ele era o sexto dos seus quinze irmãos. A família se espalhara entre
o sul, e sudeste do país, especialmente em Minas nas cidades de Boa Esperança e
Belo Horizonte.
Ele adorava esta grande família e também queria
ter tido uma família grande com a mamãe, mas se contentou em parar depois da
quarta filha, mais para agradar a mamãe do que por vontade própria. Ele dizia
que queria ter um time de futebol, no que nos rebatíamos que ele havia quase
conseguido um time de vôlei feminino, então poderia se dar por satisfeito.
A relação com o pai é muito importante para os
filhos, mas especialmente importante para as filhas. Lá em casa foi assim; cada
filha desenvolveu uma relação de afeto diferente com ele para garantir seu
espaço no coração do papai. Meu pai era generoso, às vezes engraçado e também muito
amável.
Difícil quem não gostasse dele.
Era empreendedor e sempre estava envolvido nos
assuntos da cidade, especialmente os referentes à Cooperativa Agropecuária e o
banco dos cooperados. Quando jovem junto com alguns amigos da cidade ajudou a
construir o novo Cube social. Era idealista, otimista e realizador. Defeito tinha, mas infinitamente pequenos se
comparado ao tamanho do seu coração.
Nascimento e morte os dois oposto da vida. Eu <3 Papai |
Foi com muita dor e tristeza que soube da sua
partida.
Uma memória que ninguém perde é a dos momentos que precedem a noticia da perda de um ente querido.
Aqueles foram tempos muito sofridos, ele estava sofrendo e eu também. Estávamos todos sofrendo. Seria tão fácil entender a morte a partir disso, mas na realidade não existe nada fácil quando o assunto é morte. O pra sempre, sempre assusta.
Uma memória que ninguém perde é a dos momentos que precedem a noticia da perda de um ente querido.
Aqueles foram tempos muito sofridos, ele estava sofrendo e eu também. Estávamos todos sofrendo. Seria tão fácil entender a morte a partir disso, mas na realidade não existe nada fácil quando o assunto é morte. O pra sempre, sempre assusta.
Ver alguém que você ama sofrer nos adoece... e
eu desenvolvi uma curiosa alergia que se espalhou pelo corpo inteiro. Sem cura
e sem explicação, a única achada se chamava estresse. É difícil ter serenidade e aceitação diante da
morte, principalmente quando é a primeira vez que se entra em contato com ela
na sua casa. E eu demorei muito tempo pra me recuperar desta perda.
No primeiro ano da doença do papai e ainda com
total convicção do seu restabelecimento nós (eu e meu marido) enviamos os papéis para dar entrada
ao pedido de imigração. Papai acompanhou nossas primeiras pesquisas e nos apoiou em nossa decisão. Ele estava satisfeito com meus planos achava que eu me
sairia bem e torcia muito para a minha felicidade. Acho que o sonho e a alegria
de todo pai é ver o filho ter sucesso na vida, não era diferente com o meu.
ENTREVISTA
Apesar do nosso francês ainda estar meio
rasteiro, enviamos os documentos para o consulado do Quebec, que nesta época
era na Argentina. Pensamos que o tempo que levaria para analisarem nosso
processo seria suficiente para dar uma melhorada no idioma. Foi no final do ano
de 2007. No ano seguinte, devido a quantidade de interesse dos brasileiros no
processo eles abriram escritório em São Paulo, permaneceram lá alguns anos,
depois se mudaram para o México onde o escritório esta até hoje.
Com a mudança do consulado da Argentina para
Brasil recebemos um aviso sobre o atraso nas análises dos processos. E a espera
foi longa. Só recebemos a correspondência com o pedido para a entrevista uns
seis meses depois e a data agendada para dali mais alguns meses.
Há muito tempo o interesse pela língua francesa havia diminuído no Brasil assim como no resto do mundo, então foi fácil encontrar
outras pessoas com objetivo em comum dentro das poucas escolas existentes na
cidade. Através de um destes amigos que fizemos, ficamos sabendo de um grupo que havia se formado para trocar informações sobre o Quebec, a imigração e
praticar o idioma.
Este grupo se chamava “QUOI!?”
Juntamo-nos a eles e começamos a frequentar as
reuniões e a participar dos encontros semanais. Tudo era muito novo para todos
nós. Não éramos os primeiros a ir, mas a comunidade brasileira no Quebec ainda
era muito pequena e de alguma forma aquele grupo foi se tornando a esperança de
apoio, solidariedade e conforto num mundo ainda tão desconhecido.
Ao centro do grupo o quebecoise e palestrante M. Benoît no final de uma das conferencias para informação |
O Quoi!? era pequeno, e as pessoas entravam
através de convite. Ele foi nosso apoio, formamos um grupo sólido. Éramos
pessoas desconhecidas com um mesmo objetivo; se tornarem amigas e se ajudarem.
Algumas dessas pessoas são nossos amigos(as) até hoje. Outros seguiram
caminhos diferentes ou foram morar em cidades mais distantes. É natural que
depois do objetivo cumprido as pessoas tomem rumos distintos... unimos para nos
sentirmos mais fortes. Certamente sem o grupo teríamos passado mais
dificuldades. O grupo ainda existe, mas parece não ter o mesmo entusiasmo e a mesma força de antes.
O tempo se passou e seguimos para entrevista poucos meses após a morte de meu pai. O escritório de imigração do Quebec era situado
no centro comercial de São Paulo e nós nos hospedamos a poucas quadras do
local.
Era época de formula 1 e a cidade estava cheia de torcedores. Lewis Hamilton foi o campeão do Gp de 2008 enquanto que o brasileiro Felipe Massa ficou em segundo lugar... ser vice campeão poderia até ser um excelente resultado mas nós não comemoramos, naquele dia, a vitoria era a única coisa que nos interessava. E definitivamente não foi um dia vitorioso para nós. Não receber o tão sonhado CSQ (certificado de seleção do Quebec).
Era época de formula 1 e a cidade estava cheia de torcedores. Lewis Hamilton foi o campeão do Gp de 2008 enquanto que o brasileiro Felipe Massa ficou em segundo lugar... ser vice campeão poderia até ser um excelente resultado mas nós não comemoramos, naquele dia, a vitoria era a única coisa que nos interessava. E definitivamente não foi um dia vitorioso para nós. Não receber o tão sonhado CSQ (certificado de seleção do Quebec).
Sabe aquele dia que quase deu certo... mas não
deu! Na verdade foi um pouco de má sorte eu acredito. Tivemos problema com o
entrevistador que era muito estúpido e não conhecia muita coisa sobre os
documentos do Brasil. Ele não aceitou por exemplo a carteira de trabalho como documento comprovante de ter trabalhado. Ele queria uma carta de admissão e rescisão de contrato. Isso provou uma grande confusão na nossa comunicação e nos desestabilizou.
Acompanhamos pela internet através de blogs
varias reclamações do trabalho dele o que resultou na sua saída e a retomada
dos processos que estavam com ele por outros profissionais. Mas enfim, a falta de amabilidade do
entrevistador acabou comprometendo nossa entrevista e eu em pânico, realmente quase
não consegui falar nada. Deu branco! Eu tentava, mas só saiam frases truncadas.
O Daniel, que era o requerente principal, também não foi nada bem. Realmente não era nosso dia de sorte!
A entrevista é feita com os dois (no caso do
casal) e cada um tem que responder as questões e mostrar os documentos. Em
geral o entrevistador conversa e avalia os dois um de cada vez, começando pelo
titular do processo. A entrevista é basicamente responder algumas questões
sobre sua vida no Brasil, sua intenção na imigração e fazer a conferência dos
documentos. Mas todo diálogo se dá em francês e/ou inglês, nadica de português!
Ao final da entrevista ele nos disse que,
apesar de nossos comprovantes mostrarem que nos fizemos uma quantidade
suficiente de aulas, o nosso francês ainda não correspondia as expectativas e
concluiu: vou dar uma chance a vocês porque a pontuação de vocês é boa, mas não
vou dar o CSQ hoje. Voltem pra casa, estudem mais a língua francesa, façam o TCF-Q, (teste de conhecimento do Francês –Quebec, que na época ainda não era uma
exigência) e depois de um ano marquem uma nova entrevista para eu reavaliá-los.
Um dos inúmeros encontros promovido pelo grupo QUOI!? - Este dia despedida de um dos membros que partiria para Quebec |
Estas palavras soaram como a de um juiz nos
condenando a prisão perpétua onde a clemência estava em nos aliviar da pena de
morte.
Imagina o banho de água fria!.. Tenho certeza
que ficamos mais decepcionados do que o Massa que mesmo ganhando a corrida naquele dia em São Paulo, não
levou o pódio.
Voltamos para casa desolados...
Eu parecia ter alcançado o fundo do poço! Havia
perdido o pai, agora a entrevista, não ia nada bem no trabalho e ainda andava me aborrecendo com a família da minha filha (que é fruto de outro relacionamento anterior ao meu atual marido).
Nesta situação, abandonei o estudo da língua francesa e não
participei mais das reuniões do QUOI?!. Mas não sem antes passar
as informações sobre o que acontecera na nossa entrevista, pois fomos uns dos
primeiros daquele do grupo a fazê-la naquele ano, e não queríamos que acontecesse o mesmo com eles.
Depois de nós, ninguém teve problema, ninguém passou pelo mesmo
entrevistador e um a um, todos os nossos colegas de imigração foram passando na
entrevista e seguindo seu caminho. Nenhum foi reprovado!
Neste tempo minha mãe finalmente conclui a
viagem que havia planejado com o papai e foi passar uma temporada, incluindo
natal e ano novo, nos EUA com minhas irmãs. Em casa e na minha rotina eu ia
tentando curar minhas dores e cicatrizar minhas feridas.
Passaram-se mais de seis meses até eu querer
novamente tentar fazer o tal teste de francês. Em julho do ano seguinte,
próximo de completar um ano da primeira entrevista, resolvi retomar o caminho.
Contratamos então um professor particular e estudamos com afinco.
CSQ- Certificado de Seleção do Quebec |
Prova do TCF-Q marcada para uma terça-feira e na semana anterior liga a secretária do escritório de imigração perguntando se ainda estávamos interessados no processo, pois ela queria marcar uma nova data para outra entrevista já na semana seguinte. Ficou então combinado que seria quinta-feira da semana seguinte às 11:15h da manha. E assim foi. Prova de conhecimentos em francês ( TCF-Q ) na terça e entrevista por telefone para conseguir de vez ou descartar para sempre o CSQ - certificado de seleção do Quebec, na quinta.
Onze e quinze em pila o telefone tocou, era a
entrevistadora. Daniel estava posicionado estrategicamente com todos os
documentos em mãos. Ela, desta vez foi uma mulher, falou apenas com ele. Ela apenas
confirmou se ele ainda continuava interessado no processo e conferiu alguns
dados. A conversa não durou mais de 5 minutos. No final ela disse que ele iria
receber a resposta dali uma semana. E foi exatamente assim!
Um telefonema meio misterioso e uma semana de
angústia... até recebermos pelo correio a confirmação de seleção. Enfim conseguimos!!!
O próximo passo foi fazer os exames médicos e
enviar o passaporte e os documentos para o processo federal. E assim chegamos à
etapa final.
No início do ano seguinte voltei pra Luz com
minha filha a pedido de minha mãe para ajudá-la a mudar a decoração e a reformar
algumas coisas na casa. Meu marido, Daniel veio alguns meses depois.
Enquanto eu planejava e executava a reforma da casa da mamãe ia praticando a difícil tarefa de me despedir.
Enquanto eu planejava e executava a reforma da casa da mamãe ia praticando a difícil tarefa de me despedir.
MEUS MUITOS ADEUSES...
Dediquei meus últimos meses no Brasil para
passar com minha família. Com uma família grande e alguns tios ou tias doentes meu prazer era ajudar ou simplesmente fazer companhia. Passei
varias tardes conversando com uma tia querida que estava com um câncer de
pulmão... riamos, conversamos, contávamos casos, lembrávamos de historias antigas. Fomos tão grandes amigas, nos emocionamos juntas tantas
vezes que nem sei se eu alegrava ela ou se era a companhia dela que alegrava minha vida. E entre a reforma da casa da mamãe, a nova decoração da casa da minha tia, as idas e vindas à Belo Horizonte, Divinópolis e adjacências eu ia dividindo meu tempo.
Por uma triste coincidência este foi um ano de
muitas perdas. Muitos adeuses para sempre!
Um dia acordei com o telefonema de uma tia que estava com seu marido no hospital. Ela, irma mais velha da mamãe, era nossa vizinha no interior e no telefonema dizia que naquela noite seu marido havia passado muito mal. Como de hábito mamãe se prontificou para ir ao hospital, eu me troquei e corremos para ficar perto deles e ajudar no que fosse necessário.
Inexplicávelmente vi quando meu tio deixou o corpo, difícil por isso em palavras, mas para mim certamente foi uma cena marcante da qual nunca me esquecerei.
Levantei da minha cadeira e coloquei a mão sobre o seu peito. Sabia que tinha sido o seu ultimo suspiro então corri até a porta e chamei por um medico que confirmou. Eu me compadecia da dor da minha tia mas sabia que ele havia descansado.
A esta morte, outras se sucederam. E descobri que nenhuma dor substitui a outra...
Dias depois perdi outro tio, irmão da minha mãe, e no mesmo dia do seu velório, seu filho que havia se hospitalizado uma semana antes, faleceu. Duas mortes, uma seguida da outra...
Poucos meses depois e eu fico sabendo que uma tia, esta por parte do meu pai, descobriu um câncer. Infelizmente para nós a doença não lhe deu três meses de vida. Uma tia tao querida! Que tantas vezes tao bem nos recebeu em sua casa durante as ferias ou feriados. Um tia incrivelmente culta e educada que tantas vezes tao carinhosamente cuidou de mim...
...
Eu já tinha passado por varias experiências com a morte. Meu avô morreu poucos meses depois que eu nasci. Ainda bebê um acidente de carro matou uma irmã da mamãe e quatro dos seus filhos. Perdi uma grande amiga aos dezessete anos, vários primos, tios queridos, minhas avós antes mesmo de eu entrar na juventude. Mas este ano parecia ser dedicado a morte.
Família grande e cidade do interior são duas coisas que juntas se torna quase impossível não passar por uma experiência de morte que te desestruture. Aprendi uma coisa, ninguém mede a dor do outro, porque coração é solo desconhecido e a gente não sabe a profundidade dos sentimentos que as pessoa guardam lá. E outra coisa, ninguém continua o mesmo depois de uma experiência com a morte. Se tem uma coisa que a morte ensina, é sobre a vida.
Eu sempre tinha muitos sonhos e me impressionava muito com o que via. Às vezes eu ficava com medo, às vezes tensa, às vezes triste... mas as vezes também sentia que estava sendo aparada por anjos. Este foi um ano inesquecível! Às vezes eu não sabia se era o fim do meu mundo, ou o fim do mundo deles. Não conseguia achar explicação para a triste coincidência que eu vivia entre a morte de meus familiares e a minha despedida do Brasil. Até o fim deste ano entre minha estada no Brasil e no Canadá eu perdi ao todo, para diversas doença, sete parentes, entre tios, tias e primos e posso dizer com certeza...
Mas teve claro, muitos "até logo", gostosos, sinceros... A vida pode ser surpreendente, misteriosa, fúnebre, mas também muito afável, pura e simplesmente deliciosa!... O apoio da minha família e o carinho dos amigos foi tão vital quanto o ar que respiramos! E disso, não posso reclamar!
Entre lágrimas, divagações, expectativas e sorrisos seis meses se passaram e o passaporte com o visto de imigração chegou enquanto comemorávamos os primeiros gols da copa do mundo de 2010.
Alguns dias depois estávamos embarcando cheios de malas, esperanças, expectativas, promessas e uma enorme bandeira do Brasil para ver a final da copa do outro lado do continente enquanto vislumbrávamos uma vida melhor!
E no dia 9 de julho de 2010 depois de quase vinte quatro horas de ansiedade, o avião pousava tranquilo em Montreal onde à partir de então, depositaríamos os nossos projetos futuros!
Família grande e cidade do interior são duas coisas que juntas se torna quase impossível não passar por uma experiência de morte que te desestruture. Aprendi uma coisa, ninguém mede a dor do outro, porque coração é solo desconhecido e a gente não sabe a profundidade dos sentimentos que as pessoa guardam lá. E outra coisa, ninguém continua o mesmo depois de uma experiência com a morte. Se tem uma coisa que a morte ensina, é sobre a vida.
Eu sempre tinha muitos sonhos e me impressionava muito com o que via. Às vezes eu ficava com medo, às vezes tensa, às vezes triste... mas as vezes também sentia que estava sendo aparada por anjos. Este foi um ano inesquecível! Às vezes eu não sabia se era o fim do meu mundo, ou o fim do mundo deles. Não conseguia achar explicação para a triste coincidência que eu vivia entre a morte de meus familiares e a minha despedida do Brasil. Até o fim deste ano entre minha estada no Brasil e no Canadá eu perdi ao todo, para diversas doença, sete parentes, entre tios, tias e primos e posso dizer com certeza...
Um adeus para sempre definitivamente não é coisa que nós nos acostumamos.
Mas teve claro, muitos "até logo", gostosos, sinceros... A vida pode ser surpreendente, misteriosa, fúnebre, mas também muito afável, pura e simplesmente deliciosa!... O apoio da minha família e o carinho dos amigos foi tão vital quanto o ar que respiramos! E disso, não posso reclamar!
Entre lágrimas, divagações, expectativas e sorrisos seis meses se passaram e o passaporte com o visto de imigração chegou enquanto comemorávamos os primeiros gols da copa do mundo de 2010.
Alguns dias depois estávamos embarcando cheios de malas, esperanças, expectativas, promessas e uma enorme bandeira do Brasil para ver a final da copa do outro lado do continente enquanto vislumbrávamos uma vida melhor!
E no dia 9 de julho de 2010 depois de quase vinte quatro horas de ansiedade, o avião pousava tranquilo em Montreal onde à partir de então, depositaríamos os nossos projetos futuros!