Sempre que
a situação no Brasil parece piorar vem mais uma vez uma leva de gente
procurando por informações sobre imigração. Não vejo problemas, acredito ser
normal. Sem esperança ou insatisfeito é
que não dá pra viver. Mas aí surge a
questão, será que você tem perfil pra ser imigrante?
Imigrantes de vários países no curso de francisação da UQAM- Montreal -2010 |
Como já escrevi (aqui) eu costumo incentivar as mudanças, as viagens e também, claro, um projeto de imigração. Incentivo, pois acredito que vale a pena. Independente de qualquer resultado no final; se vai dar tudo certo, se vai ficar para sempre ou se vai arrumar as malas e voltar. Incentivo porque acredito que quando saímos da nossa zona de conforto aprendemos muito mais sobre a vida, sobre nossas relações com as pessoas e com o mundo em geral, mas aprendemos principalmente sobre nós mesmos. Incentivo porque acredito que as experiências vividas na imigração são ricas e podem ser transformadoras.
Podem sim! Mas isso depende de cada um.
Em outras
palavras, o que eu acredito é a minha maneira de ver este tipo de experiência que
nada mais é que uma interpretação muito pessoal do mundo, das minhas vivências
e das trocas de experiências com amigos e conhecidos que compartilharam seus
pontos de vista comigo. Por isso a decisão de migrar ou de imigrar é sempre
muito pessoal e cabe a cada um fazer uma avaliação sobre o tema e
principalmente analisar suas possibilidades de sucesso nesta empreitada.
Para te
ajudar nesta sua decisão, listei os aspectos a serem analisados para ver se
você esta preparado para partir rumo ao desconhecido. Voilà os dez itens do
perfil de imigrante:
1-Disposição para enfrentar desafios;
Sem dúvida,
a primeira coisa a ser avaliada neste projeto é seu potencial para enfrentar
desafios e mudanças. Prepare-se, pois os desafios serão diários e a mudança
certamente bem radical. E te asseguro que sem persistência e coragem seu
projeto estará fadado ao fracasso. Então além das mudanças previsíveis, você
também deverá estar disposto a descobrir novos sabores, a se adaptar ao clima
(nem sempre favorável), a ser flexível, a se frustrar quando tentar se
comunicar, a ler as entrelinhas, a aprender sobre a cultura local e a estar
preparado para usar plano B, C ou D caso seu plano A venha abaixo.
2-Desapego;
Saber seu
nível de desapego em relação a sua família, seu status social, seus amigos, sua
cidade e até as pequenas coisas da vida também é de grande importância. Não
estou falando aqui sobre sentir saudades. Isso é outra coisa. Mas se você
consegue realmente viver sem tudo isso que você tem agora. Será que apenas
visitas ocasionais ao Brasil serão suficientes para matar as saudades e
continuar seguindo em frente? Tem pessoas que não conseguem viver sem visitar
os pais semanalmente, ou sem sair pra tomar uma com os amigos, ou sem seguir
seu time do coração, ou sem se estremecer ao som do carnaval... Às vezes
estamos mais preparados pra nos desapegarmos de grandes coisas, um emprego, um
caso de amor, o país, que esquecemos que são as pequenas coisas na nossa vida
que mais nos fazem falta.
3-Orgulho e vaidade;
Até que
ponto você estaria disposto a moldar seu orgulho? Ter satisfação por suas
realizações pode ser um sentimento elevado de dignidade pessoal, mas o orgulho
tem outras facetas e trazê-lo na bagagem pode ser arriscado. Então, dispa-se dele!
Humildade será a palavra de ordem. Toda imigração vem com uma boa dose de
humildade e paciência. Por mais que você venha preparado, você vai ter que se adaptar
as novas regras. Falar outro idioma é uma delas e desde que este não seja sua
língua materna, certamente em algum momento você terá problemas. Esteja
preparada para pessoas impacientes com seus erros e sotaque, então aprenda
antes de tudo a respirar fundo, sorrir e não ter medo de começar a frase de
novo.
4- Eterno Imigrante;
Desde que
você fincar os pés em outro país, você será um eterno imigrante aos olhos dos
nativos ou na melhor das hipóteses será “um gringo”. Esqueça se seu sobrenome
carrega gerações de reis e magnatas. Aliás, muitos sobrenomes para estas bandas
de cá, parece soar como algo de extremo mau gosto, além de te trazer alguns
problemas na hora de fazer inscrições. Mas enfim, mudar conceitos também faz
parte das regras.
Também esqueça
se você já foi um profissional disputado a tapa pela concorrência, e mesmo
tendo um currículo invejável, aqui ninguém te conhece! E isso infelizmente,
contará contra você. A menos que você
seja realmente a única opção para a empresa, qualquer um que tenha uma
“experiência canadense” passará na sua frente na lista. Aqui eles não valorizam
“gringos” como vemos frequentemente no Brasil!
Sendo
assim, você será em primeiro lugar, reconhecido como um imigrante, em segundo
como sul americano ou latino americano, em terceiro (talvez) como brasileiro
para só então passar a ser reconhecido como você mesmo, com nome e sobrenome! Talvez
também, pois em algumas situações o reconhecimento só vai até os três primeiros
tipos.
Imigrantes - amigos da época da francisação - |
5-Preconceito;
Esteja preparado ou no mínimo ciente que você ou sua família podem sofrer preconceito. Infelizmente você não estará imune a isso! Sim, existe preconceito e descriminação por aqui. Não é a toa que a taxa de desempregados pode variar de acordo com a origem da pessoa. Pra se ter uma ideia, em 2014 à taxa de desemprego aqui no Quebec entre os nativos canadenses foi em media de 5%, já entre imigrantes asiáticos ficou por volta de 12%, entre os latinos americanos chegou a quase 15% e entre os imigrantes africanos 20%.
Existe uma visível discrepância entre a integração oferecida pelo governo e a oferecida pela sociedade. Enquanto o governo vai te dar todos os recursos necessários para sua integração (como validação do diploma e direitos iguais), a sociedade pode não ter a mesma boa vontade. Por isso não é difícil ver motoristas de taxi, atendentes de call center, caixas de supermercados, instaladores de tv e babás falando três línguas e com um diploma de bacharel guardado em algum canto.
6-Preconceito II;
O
preconceito tem duas vias; então mesmo estando sujeito à discriminação o
imigrante pode, por outro lado, ser um discriminador potencial. Tenha cuidado
ao julgar! O Canadá é um país que protege os direitos humanos e as minorias.
Muitas das propostas que são debatias no Brasil hoje já é realidade aqui há muitos
anos como a lei do aborto; O reconhecimento ao casamento gay (há mais de 10
anos); O cigarro de maconha para uso medicinal; A maioridade penal a partir de
12 anos e até ajuda medica pra morrer (em determinados casos no Quebec). Então é
importante que o imigrante tenha um espírito aberto e aprenda a julgar menos.
Lembre-se de que aquilo que você
acredita e valoriza hoje pode mudar completamente amanhã.
7-Disposição para recomeçar;
Colocar
a vida toda em algumas malas e atravessar o oceano, ou o continente, com um
projeto de vida na mão não é coisa pra qualquer um. Tem gente que não gosta nem
de mudar de rotina, imagina recomeçar do zero. E se tem uma coisa inegável na
imigração é que será sem dúvida um recomeço. E recomeçar às vezes quer dizer
recuar, pra depois avançar. Não pense que você vai chegar aqui e vai conseguir
manter seu status social e muitas vezes tão pouco financeiro. Então invista
nesta ideia com muita coragem. Não espere que uma história mal resolvida no
passado venha bater a sua porta, conclua-a, ponha um ponto final. Aproveite pra
se reciclar, para jogar fora os excessos antes que seja tarde; assim o recomeço
será mais leve e prazeroso.
Todo
mundo que se interessa pela imigração acredita ter um motivo para querer
imigrar. Uns sonharam com isso a vida toda, outros são levados pelas circunstâncias
da vida. Mas, a menos que seu caso, seja motivado por alguma força maior que te
obrigue a migrar, certifique-se que sua motivação é mesmo válida. Eu costumo
dizer que não precisamos de motivos pra imigrar, basta ter coragem! Isso é verdade,
mas eu sei que às vezes precisamos de motivos para apoiar nossa decisão. Então
pense na imigração como um casamento, não venha sem ter certeza de que esta
tomando a decisão certa. Assim como em um casamento você pode se separar, mas
fazer um projeto pensando que pode não dar certo já é meio caminho para o
fracasso. Imigrar deve ser uma decisão planejada com cuidado, sonhada e
acalentada, mas com o devido pé no chão.
9- Perfil do solteiro x perfil do acompanhado;
Se
você chegou até aqui, acredita que você tem o perfil necessário e você vai vir
sozinho, ótimo! Você não tem com o que se preocupar. Mas se seu projeto
envolver outras pessoas então esta não é o tipo de decisão que podemos tomar
sozinhos. Imigrar tem que ser uma decisão conjunta, pois não é simples nem
fácil. Se todos os envolvidos não tiverem de acordo dificilmente você
conseguirá levar seu projeto adiante por muito tempo. Alguns casais não estão
preparados para enfrentar este tipo de barra e acabam se separando; outros até
se fortalecem. Outra coisa importante a considerar é a integração dos filhos,
nenhum pai vive feliz sem a felicidade dos filhos.
Aqui
cabe bem aquela frase; sonho que se sonha junto é realidade! Certifique-se que
todos estão realmente embarcando nesta ideia. Mostre as vantagens que você esta
vendo e converse bastante sobre isso. Assim quando estiverem aqui estarão todos
dispostos a se apoiar e a andar juntos. Não tem nada melhor que comemorar o
sucesso de um projeto com quem amamos.
Neste ponto
já falamos dos principais desafios que você poderá enfrentar ao decidir ser um
imigrante. Vamos agora a ultima dica:
10-Se informe;
Por que isso faz parte do perfil do imigrante? Porque buscar informações, pesquisar, ler e se informar é o que um pretendente a imigrante precisa pra ser mais assertivo e para minimizar os erros. Planeje! Invista tempo e energia no seu projeto! Ninguém ira fazer isso por você!
E além das informações referentes ao processo de imigração, se informe também sobre o país para onde você pretende migrar, sobre sua cultura, sua história. Um pouco de informação não vai te imunizar de todas as surpresas, mas vai te ajudar muito! Não só a compreender a nova cultura e a se integrar ao país que esta te acolhendo, mas também a decidir sobre seus objetivos depois de consolidada a imigração.
E além das informações referentes ao processo de imigração, se informe também sobre o país para onde você pretende migrar, sobre sua cultura, sua história. Um pouco de informação não vai te imunizar de todas as surpresas, mas vai te ajudar muito! Não só a compreender a nova cultura e a se integrar ao país que esta te acolhendo, mas também a decidir sobre seus objetivos depois de consolidada a imigração.
Muitas
pessoas acreditam que o Canadá e os EUA são praticamente a mesma coisa, mas
ficam irritadas quando alguém não conhece o Brasil ou quando nos confundem com
qualquer outro país da América do Sul. Então lembre-se que o Canadá tem sua
própria historia e cultura, assim como o Brasil que é o único país latino que
fala português é e muito diferente da Argentina, da Venezuela ou do Peru!
Politicamente
o Canadá é uma monarquia constitucional, e sua rainha é a Elisabeth II, a mesma
da Inglaterra e da Austrália! Aqui se usa dólar canadense (e não americano!) e
tem duas línguas oficiais; o francês e o inglês. O Canadá é um país de economia
mista, com muitas políticas públicas que visam à igualdade social e a
distribuição de renda. Não é um país para quem quer enriquecer, mas antes de
tudo pra quem procura qualidade de vida e segurança. Se for isso que você esta
procurando então seja bem-vindo!
E para
finalizar deixo esta lenda para sua reflexão, ela se chama Oásis.
"Conta uma popular lenda do Oriente Próximo,
que um jovem chegou à beira de um oásis junto a um povoado e, aproximando-se de
um velho, perguntou-lhe:
- Que tipo de pessoa vive neste lugar?
- Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde você vem? - perguntou por sua vez o ancião.
- Oh, um grupo de egoístas e malvados - replicou o rapaz - estou satisfeito de haver saído de lá.
- A mesma coisa você haverá de encontrar por aqui, replicou o velho.
No mesmo dia, outro jovem se acercou do oásis para beber água e vendo o ancião perguntou-lhe:
- Que tipo de pessoa vive por aqui?
O velho respondeu com a mesma pergunta: - Que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem?
O rapaz respondeu: - Um magnífico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospitaleiras. Fiquei muito triste por ter de deixá-las.
- O mesmo encontrará por aqui - respondeu o ancião.
Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou ao velho:
- Como é possível dar respostas tão diferentes à mesma pergunta?
Ao que o velho respondeu:
- Cada um carrega no seu coração o meio ambiente em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou, não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou amigos ali, também os encontrará aqui, porque, na verdade, a nossa atitude mental é a única coisa na nossa vida sobre a qual podemos manter controle absoluto."
- Que tipo de pessoa vive neste lugar?
- Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde você vem? - perguntou por sua vez o ancião.
- Oh, um grupo de egoístas e malvados - replicou o rapaz - estou satisfeito de haver saído de lá.
- A mesma coisa você haverá de encontrar por aqui, replicou o velho.
No mesmo dia, outro jovem se acercou do oásis para beber água e vendo o ancião perguntou-lhe:
- Que tipo de pessoa vive por aqui?
O velho respondeu com a mesma pergunta: - Que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem?
O rapaz respondeu: - Um magnífico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospitaleiras. Fiquei muito triste por ter de deixá-las.
- O mesmo encontrará por aqui - respondeu o ancião.
Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou ao velho:
- Como é possível dar respostas tão diferentes à mesma pergunta?
Ao que o velho respondeu:
- Cada um carrega no seu coração o meio ambiente em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou, não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou amigos ali, também os encontrará aqui, porque, na verdade, a nossa atitude mental é a única coisa na nossa vida sobre a qual podemos manter controle absoluto."
Abaixo
alguns links de textos interessantes que falam do mesmo tema. Sempre vale a
pena ver outros comentários sobre este assunto!
Devo ou não imigrar? - por Marcio Ribeiro (Montreal na real)
Na Balança - por Daniela Junqueira (No tempo...)
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