Este é o segundo texto da historia iniciada como o título de "Os três TEMPOS e os Novos BÁRBAROS".
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Profissão: Design de Interiores
Morei, estudei e trabalhei por muitos anos em
Belo Horizonte. Formada em Design de Interiores tive um escritório com uma
grande amiga que estudou comigo. Trabalhamos duro, tivemos bons clientes e um
promissor sucesso.
Eu comecei na universidade quando decorador ainda era artigo raro. Alguns mais debochados chamavam meu curso de curso de
espera marido, o que me irritava profundamente, pois nunca tive este tipo de
personalidade. Mas sim, devo confessar que hoje dá pra entender os comentários
mal intencionados daquela época, diante de minha escolha. Ninguém acreditava
que a profissão de decorador iria ser tão bem valorizada e que cresceria tanto
como aconteceu.
Era uma época que os bons e raros decoradores tinham que ir à
SP ao Rio ou mesmo à Europa para escolher antiguidades ou importar as novidades
ditadas pelas vozes que tinham acesso a este luxo.
Além disso, na faculdade uma grande parte de
minhas colegas pertencia ao seleto grupo de pessoas influentes dentro da
sociedade Belo-horizontina, o que contrastava com minha realidade de menina
vinda do interior.
recém formada |
Mesmo minha família fazendo parte da sociedade de onde eu
vinha isso pouco ajudava. E esta
situação por vezes me deixou insegura sobre meu futuro. Mas como sempre fui
persistente segui em frente.
Dinheiro e influência são coisas muito bem
vindas quando o assunto era querer ser um profissional nesta área. Sem isso o
começo poderia ser desastroso! O decorador vivia dos seus bons contatos! Confesso
que tive sorte... uma ajudinha, além de
boas notas na faculdade e determinação, claro!
O fato é que tudo correu muito bem no meu
começo profissional. Festas, vernissages, fotos, flashes, entrevistas, jornais e
tudo indo de vento em poupa. Tudo até eu entender que eu era mais idealista do
que ambiciosa. Que nem tudo valia pra ter sucesso, que ficar rico não poderia ser
o único objetivo da vida e que, naquele momento, eu já estava insuportavelmente
de saco cheio de gente fútil, vazia e arrogante!
Então não dava pra continuar
por este caminho...
Jovem e idealista!
Na minha forma de pensar,
decoração servia pra melhorar a vida das pessoas. Servia para que as pessoas
tivessem mais conforto, qualidade de vida e luxo para os que podiam mais,
porque não? Mas não uma forma de competição pra mostrar quem podia mais e pagava
o mais caro. Isso foi frustrante! Eu gostava de criar, gostava de pensar a
melhor solução, adorava ver tudo pronto, lindo e funcionando! E com a minha, a nossa
(minha e de minha sócia) assinatura! Afinal, um pouquinho de autoestima não faz
mal a ninguém!
Jornal da Pampulha BH - Caderno de decoração |
Mas, não estava ali só para
fazer fita e posar de rica, eu gostava do meu trabalho! Sorriso falso sempre
foi um martírio pra mim. Frustrante também foi constatar que algumas pessoas
apesar de já ricas, querem enfiar o pé no seu pescoço e tirar vantagem às suas
custas. Não importa que já tenham muito, eles querem mais.
Desvalorizar o serviço, ou o produto do outro é
um bom indício de pessoa de má fé, mal-intencionada.
Foi difícil e dolorido largar tudo que eu havia
conquistado... mas eu estava realmente furiosa! Graças à um projeto realizado
para uma destas típicas socialites que vimos em revistas, eu decidi parar.
Tinha chegado ao meu limite! O caso seguiu com um processo na justiça onde no
final ganhamos, mas a esta altura eu já tinha me desiludido...
Meteórico sucesso e decadência proposital!
A verdade é que nunca consegui largar
definitivamente da decoração, sempre me vejo as voltas ajudando alguém com
algum projeto, mas este seria o fim de minha carreira “promissora” como designer
de interiores.
eu... |
... ela - sempre em sintonia! |
Claro que também houve motivos para continuar,
foi um tempo maravilhoso na minha vida. Ficaram boas lembranças e amizades
queridas.
Foram muitos anos de trabalho e uma boa bagagem de experiência
acumulada. O fato que aconteceu com esta cliente foi um motivador para eu
começar a fazer algumas mudanças que eu queria... que eu sentia que precisava
fazer.
Como eu disse, não foi fácil e muitas das
coisas que se sucederam não saíram como eu queria.
Mas a decisão foi tomada e não me arrependo. Mesmo sendo ela até hoje meu porto seguro como profissão
eu quis deixar e me abri para que novas experiências fossem surgindo.
Continua: TEMPO 2: O Governo ...
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