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03 fevereiro 2014

TEMPO 1: A Socialite

Este é o segundo texto da historia iniciada como o título de "Os três TEMPOS e os Novos BÁRBAROS".
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Profissão: Design de Interiores





Morei, estudei e trabalhei por muitos anos em Belo Horizonte. Formada em Design de Interiores tive um escritório com uma grande amiga que estudou comigo. Trabalhamos duro, tivemos bons clientes e um promissor sucesso. 




Eu comecei na universidade quando decorador ainda era artigo raro. Alguns mais debochados chamavam meu curso de curso de espera marido, o que me irritava profundamente, pois nunca tive este tipo de personalidade. Mas sim, devo confessar que hoje dá pra entender os comentários mal intencionados daquela época, diante de minha escolha. Ninguém acreditava que a profissão de decorador iria ser tão bem valorizada e que cresceria tanto como aconteceu. 


Era uma época que os bons e raros decoradores tinham que ir à SP ao Rio ou mesmo à Europa para escolher antiguidades ou importar as novidades ditadas pelas vozes que tinham acesso a este luxo.  


Além disso, na faculdade uma grande parte de minhas colegas pertencia ao seleto grupo de pessoas influentes dentro da sociedade Belo-horizontina, o que contrastava com minha realidade de menina vinda do interior. 


recém formada
Mesmo minha família fazendo parte da sociedade de onde eu vinha isso pouco ajudava.  E esta situação por vezes me deixou insegura sobre meu futuro. Mas como sempre fui persistente segui em frente.


Dinheiro e influência são coisas muito bem vindas quando o assunto era querer ser um profissional nesta área. Sem isso o começo poderia ser desastroso! O decorador vivia dos seus bons contatos! Confesso que tive sorte...  uma ajudinha, além de boas notas na faculdade e determinação, claro!  

O fato é que tudo correu muito bem no meu começo profissional. Festas, vernissages, fotos, flashes, entrevistas, jornais e tudo indo de vento em poupa. Tudo até eu entender que eu era mais idealista do que ambiciosa. Que nem tudo valia pra ter sucesso, que ficar rico não poderia ser o único objetivo da vida e que, naquele momento, eu já estava insuportavelmente de saco cheio de gente fútil, vazia e arrogante! 

Então não dava pra continuar por este caminho...
  

Jovem e idealista! 


Na minha forma de pensar, decoração servia pra melhorar a vida das pessoas. Servia para que as pessoas tivessem mais conforto, qualidade de vida e luxo para os que podiam mais, porque não? Mas não uma forma de competição pra mostrar quem podia mais e pagava o mais caro. Isso foi frustrante! Eu gostava de criar, gostava de pensar a melhor solução, adorava ver tudo pronto, lindo e funcionando! E com a minha, a nossa (minha e de minha sócia) assinatura! Afinal, um pouquinho de autoestima não faz mal a ninguém! 
Jornal da Pampulha BH - Caderno de decoração

Mas, não estava ali só para fazer fita e posar de rica, eu gostava do meu trabalho! Sorriso falso sempre foi um martírio pra mim. Frustrante também foi constatar que algumas pessoas apesar de já ricas, querem enfiar o pé no seu pescoço e tirar vantagem às suas custas. Não importa que já tenham muito, eles querem mais. 

Desvalorizar o serviço, ou o produto do outro é um bom indício de pessoa de má fé, mal-intencionada.
Foi difícil e dolorido largar tudo que eu havia conquistado... mas eu estava realmente furiosa! Graças à um projeto realizado para uma destas típicas socialites que vimos em revistas, eu decidi parar. Tinha chegado ao meu limite! O caso seguiu com um processo na justiça onde no final ganhamos, mas a esta altura eu já tinha me desiludido... 



Meteórico sucesso e decadência proposital!



A verdade é que nunca consegui largar definitivamente da decoração, sempre me vejo as voltas ajudando alguém com algum projeto, mas este seria o fim de minha carreira “promissora” como designer de interiores.

eu...
...  ela - sempre em sintonia!



Claro que também houve motivos para continuar, foi um tempo maravilhoso na minha vida. Ficaram boas lembranças e amizades queridas. 


Foram muitos anos de trabalho e uma boa bagagem de experiência acumulada. O fato que aconteceu com esta cliente foi um motivador para eu começar a fazer algumas mudanças que eu queria... que eu sentia que precisava fazer.


Como eu disse, não foi fácil e muitas das coisas que se sucederam não saíram como eu queria. 





Mas a decisão foi tomada e não me arrependo. Mesmo sendo ela até hoje meu porto seguro como profissão eu quis deixar e me abri para que novas experiências fossem surgindo.





Continua: TEMPO 2: O Governo ...





 

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