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06 outubro 2013

NA BALANÇA

Publiquei este texto alguns meses atrás no meu perfil do facebook . Muitas pessoas acharam interessante então agora estou postado aqui no blog.

 Ps.* Muitas informações são generalizadas com o intuito de facilitar e compilar o texto. Lembrando que é minha percepção e minha experiencia e também que exceções sempre existem. : ) 
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Todo mundo que mora fora do seu país de origem pensa ou já pensou em voltar para a “casa”.


Eu penso sempre nesta possibilidade, penso varias vezes... não descarto mas não dou certeza. Por hora a única coisa que sei é que ainda tenho um longo caminho a percorrer por aqui e poucas certezas sobre o futuro.

Em julho completamos, eu e minha família, três anos de Canadá. Melhor dizendo, de Quebec! Então, nada mais natural do que querer fazer um balanço da nossa vida aqui. Aproveitei a onda do francês Olivier que vive em Belo horizonte, e escreveu sobre o Brasil e descrevi em 34 itens o que eu aprendi vivendo aqui e tudo que pesa na minha balança quando penso em voltar. 





                                                                             MONTREAL- QUEBEC -CANADÁ


1- PLANIFIQUE. Esta é a palavra de ordem, aqui nada é “para ontem”... Para tudo você precisa marcar um “rendez-vous”, esqueça o improviso! Planeje, marque seus encontros com dias e até semanas de antecedência, mesmo que seja com um amigo que você encontra com frequência.

 

2- SEJA PONTUAL. Hora marcada, lugar definido, não se atrase, se possível chegue adiantado ao menos 5 minutos, o atraso será considerado uma grande falta de educação. Caso seja realmente inevitável o atraso, se desculpe. A pontualidade é uma das virtudes mais admiradas, mais até que a competência.

 

3- SEJA ESPECIALISTA. Se você aprendeu a apertar o parafuso, não queria desapertá-lo. Você é especialista em apertar parafuso e não em desapertá-lo e isso é tudo que você precisa saber.

 

Carta do Metrô de Montreal
4- ACOSTUME-SE COM A FALTA DE COMUNICAÇÃO. Não peça informação se a pessoa não for “especialista em dar informações”, pois mesmo se a especialista em informação estiver do lado desta pessoa, ela não vai lhe dar esta informação, pois certamente não esta dentro de suas obrigações de trabalho informar onde esta a “especialista em dar as informações que você precisa”.


5- PROCURE SE INFORMAR SOZINHO. Se as informações que você precisar estiverem em algum site, leia o site, pois mesmo se você for ao local para receber as informações muito possivelmente a informante vai te mandar ler no site.
 


6- SIGA AS NORMAS. Se você chegar a um local para marcar uma consulta, e ficar sabendo que neste local eles marcam consulta por telefone, não adianta insistir para a secretária olhar na agenda que esta a sua frente e agendar uma consulta, você vai ter que ligar deixar recado na secretaria e quando a pessoa puder ela vai te ligar de volta.



 

7- USE A SECRETARIA ELETRÔNICA. Se você deixar um recado na secretaria eletrônica, seja de um hospital, seja para o diretor da sua faculdade, seja em um órgão publico, ou qualquer outro local, eles vão retornar sua ligação. Aliás esta é uma das maneiras mais comuns e eficientes de se comunicar.

 

8- ESCOLAS PÚBLICAS. Aqui as escolas públicas são em geral de excelente qualidade e frequentadas por todos. Em geral as aulas começam às 8:00h da manha e vão até as 3:00h da tarde. Não existe uniforme e nem ao menos competição de roupa mais bonitas, ou de melhor material escolar. Somente nas escolas particulares as pessoas usam uniformes.

Projet: "Alimentation Santé" - Ecole Primaire Île-des-Soeurs

 

9-EDUCAÇAO ALIMENTAR. Não tem cantina para comprar merenda nas escolas, as crianças levam tudo de casa. Preste atenção, pois é proibido levar doces e até mesmo bolacha de chocolate. Os alimentos devem ser de preferência equilibrados. Algumas escolas oferecem alimentos, e em outras se tem a opção de comprar o almoço pronto com cardápio preestabelecido. Também não ofereça alimentos, muitas pessoas tem restrições alimentares ou são alérgicas, principalmente ao amendoim.

 

10- LEVE MARMITA. A maioria das pessoas leva marmita, seja para escola, para o trabalho ou em qualquer outro lugar. É normal e até chique levar sua marmita “santé”(saudável). Você será visto com bons olhos se seu almoço for equilibrado, contiver muita salada e seu lanche for de frutas frescas. Mesmo o dono da empresa ou o seu chefe, vai levar marmita para a empresa e quase todos os lugares tem micro-ondas para aquecer a comida.

 

11- CONSCIÊNCIA AMBIENTAL E PRATICA DE ESPORTES. Outro quesito de status social é ter consciência ambiental e praticar esportes. Você verá muitas propagandas do governo incentivando a boa alimentação, a prática de esporte e a consciência ambiental. Há quadras para praticar esporte, principalmente o tênis, praças com parques e piscinas públicas em todos os bairros e na maioria das vezes mais de uma por bairro. Você tem direito a frequentar as piscinas do seu bairro; basta fazer uma carteirinha e comprovar endereço. Nos locais com piscina sempre terá salva-vidas.



Sirop d'érable- Cabane à Sucre du Domaine Magaline
12-ORGULHOSAMENTE CANADENSE. Aqui se tem um orgulho dos produtos daqui, como eu jamais tinha visto. Tudo que é feito aqui é de melhor qualidade. É fácil você encontrar num produto nacional com um escrito assim “fièrement Canadien” (orgulhosamente Canadense). E deste lado de cá, no Quebec, será realmente uma honra comprar e consumir um produto do estado. Então em todas as estações do ano você tem a possibilidade de ir às fazendas para ver as maravilhas canadenses em loco. Tem a época de colheita das maças, dos morangos, a época dos milhos e da “cabane sucre” (cabana de açúcar- época de extração da seiva de acer/bordo - chamado de sirop d'érable ou maple syrup) produto bem típico daqui. Et... ça fait du bien aller à la campagne!




 


13- TRANSITO SEGURO E EFICIENTE. Apesar de alguns quebecois reclamarem do trânsito, eu não posso concordar. Com raríssimas exceções, (uma obra, ou algum problema) o trânsito flui muito bem. Os ônibus passam impressionantemente no horário marcado. Você não precisa correr, abanar a mão nem se desesperar, o ônibus vai parar no ponto, vai esperar você entrar, e o motorista vai te desejar um bom dia ou te agradecer. Dentro do ônibus você pode encontrar empresários de terno e gravata, madames super bem vestidas, mas também idosos, bebes, crianças, estudantes e até de vez enquanto um cachorrinho ou um gatinho, dentro de sua caixa ou sendo conduzido num carrinho tipo do de bebe. Mas ao contrario do que se possam imaginar poucas pessoas sedem seus lugares aos mais velhos e as grávidas.


14- ESPAÇO E SILENCIO. Apesar de ter quase a mesma população de Belo horizonte, Montreal parece pequena, não tem ruas lotadas, nem pessoas se acotovelando nos locais públicos por causa de espaço. Também não tem ninguém xingando no transito, buzinando, gritando ou ouvindo som alto. É muito comum ver pessoas lendo jornais, livros ou navegando na internet nos ônibus no metro ou até mesmo na rua. É possível abrir seu computador em qualquer lugar e em qualquer hora do dia ou da noite.
 


Centro da cidade - (foto Alexandre Bacelar)
15- VIOLÊNCIA. Sim, tem ladrões, tem mendigos, tem muitos dependentes de drogas, tem máfia chinesa, russa e italiana e alguns suicidas que pulam na linha do metro. Mas a taxa media anual de homicídio no Canadá inteiro é de 1.83 enquanto que nos EUA é 5.0 e no Brasil é de 21.7

16- SEJA DIFERENTE. As pessoas em geral se vestem de forma casual e os jovens de forma meio desleixada. Não existe moda que todo mundo segue, tipo cabelo loiro de chapinha. As pessoas gostam de ser diferentes. Cabelos desgrenhados são chiques e ficam bonitos aqui. E as negras, muitas delas, usam peruca. Não estranhe e um dia você ver uma mulher negra num dia com um cabelo curto e liso e no outro com um enorme cabelo loiro.

 

17- RESPEITO. No verão você vai ver mulheres com shorts curtíssimos, com metade da bunda para fora, mesmo dentro da sala de aula! E nenhum, digo, nenhum homem, nenhuma pessoa, será desrespeitosa com ela, nem ao menos vão ficar olhando. É falta de educação ficar observando as pessoas. Mesmo a maior “periguete” do mundo não chamaria atenção dentro de um ônibus ou do metro aqui e você não vera ninguém olhando para ela ou fazendo comentários.


 

18-INDIVIDUALIDADE E RESPONSABILIDADE. As pessoas saem de casa cedo, (entre 17 e 20 anos) e vão morar sozinhas. Em geral elas trabalham durante o verão (junho, julho e agosto) e estudam no inverno. Desde cedo elas são educadas para serem independentes e responsáveis. Mesmo uma família riquíssima acha super natural ver seu filho trabalhando, por exemplo, como caixa num supermercado para ganhar seu dinheiro. Aqui as mulheres são muito mais ativas que os homens. É mais fácil você ver uma mulher chegar num homem para paquerar que o contrário. As relações são quase sempre informais, então juntar e “desjuntar” e muito comum. As pessoas mais velhas são dinâmicas, praticam esportes, pegam ônibus, viajam e muitos continuam a trabalhar mesmo depois de aposentados, não para sustentar a família, mas para não ficar em casa sozinho e para ter mais dinheiro para se divertir. É muito comum ver pessoas de 80 anos ainda na ativa.

 

19- QUALIDADE DE VIDA. As mães têm um ano de licença maternidade (mesmo se for mãe adotiva) e os pais também podem pegar licença maternidade. Criança é tão importante e respeitada por aqui que existe um programa do governo (federal e estadual) destinado a melhorar a qualidade de vida delas. Para participar basta se inscrever gratuitamente e você receberá um cheque pelo correio ou depositado em sua conta no valor médio mensal de 500,00 por criança. Também o programa de inseminação artificial é totalmente gratuito.

 

Fazenda Domaine Magalaine
20- INVERNO. Aqui é oito ou oitenta. A temperatura pode chegar a 40 graus positivos no verão e 40 graus negativos no inverno. Acostume-se a olhar a meteorologia e aprenda da falar do tempo, pois é o melhor assunto para começar uma conversa. O inverno é duro. Mesmo para as pessoas daqui. É muito longo. Mexe com nosso humor, diminui nossa energia. Mas é a época que todo mundo trabalha ou estuda muito. Feliz de quem pratica esporte de inverno; são inúmeras opções. No inverno dias ensolarados são os mais frios, e dias nublados e com neve são os mais divertidos e os menos frios. Apesar de todos os lugares terem aquecimento (ônibus, estação de metro, prédios etc, etc.) vista-se adequadamente senão você pode congelar... literalmente!
 






Lac aux Casteurs -Parc Mont-Royal  (foto Alexandre Bacelar)
21- VERÃO. O verão é muito bem aproveitado por aqui. Os parques vão estar cheios, as pessoas vão estar alegre. As ruas vão estar cheias de gente indo para o trabalho, indo pra escola ou simplesmente passeando de bicicleta, de patins ou de patinete. Tem muitos festivais e shows ao ar livre e muitos lugares fecham mais cedo na sexta-feira ou simplesmente não abrem. Esta é também a época que muitas pessoas viajam ou trocam de aluguel ou mudam de emprego. Tem inclusive o dia nacional da mudança que é 1º de julho. Mas saiba que se você não conseguir emprego nem mudou de aluguel nesta época, dificilmente vai conseguir durante o inverno.


22- LUXO. Ter garagem é um luxo, por incrível que pareça! Poucos prédios têm garagens e as casas têm garagens pequenas e a maioria das pessoas as usa para entulhar coisas. Os apartamentos em geral só tem um banheiro e não tem box, você toma banho dentro da banheira. Mesmo se tiver outro banheiro não terá dois chuveiros. Definitivamente eles não conhecem área de serviço, isso aqui é artigo raríssimo. Em geral as maquinas de lavar roupa ou são comunitárias no prédio, ou estão dentro da cozinha, ou dentro do seu único banheiro. E empregada domestica é palavra praticamente extinta, nem mesmo pessoas ricas costumam ter.




23-ACESSIVEL. Ter BMW, Ferrari, Haley Davison, é um luxo acessível... você vai ver muitos destes veículos circulando durante o verão.... Mas não é luxo usar roupas de marcas e ter o último eletroeletrônico lançado no mercado. Tudo é muito acessível, tudo é possível, não precisa ter inveja, nem cobiçar as coisas alheias. Mas caso você ainda não esteja em condições de comprar o que você deseja, não se preocupe, é comum as pessoas deixarem coisas praticamente novas nas portas de suas casas para as outras pegarem, de geladeira, a maquinas de lavar, passando por sofás, micro-ondas e impressoras... tudo mesmo!
 


24- CUSTO-BENEFÍCIO. No Canadá o salário mínimo esta hoje entre 9,5 e 11 dólares à hora, pois varia de acordo com o estado. O imposto é alto, 14,5% sobre os produtos. Mas o retorno é satisfatório. A saúde publica é realmente para todos. Os remédios são subsidiados pelo governo e tem custo bem reduzido. Muitas pessoas preferem não subir de cargo, pois o custo benefício não vale a pena. Quanto mais você ganha, mais você paga de imposto. O pensamento é lógico; para que você vai acumular tarefas e responsabilidades para no final ganhar quase a mesma coisa. Aqui as pessoas não são empreendedoras, elas preferem ser empregadas.




Point Champlain estacade  (foto Rodrigo Cerqueira)
25- POBREZA. Existe pobreza sim, não como a gente conhece no Brasil e em outros lugares do mundo. E também não é por falta de oportunidade de estudar ou trabalhar. A pobreza aqui esta mais relacionada à cultura da pobreza em pessoas que vem de famílias com problemas ou desestruturadas. Também podemos ver muitos deficientes físicos e ou mentais andando sozinhos pelas ruas. Aqui eles têm segurança e apoio para se integrar a sociedade.
  

26-ASSISTENCIA SOCIAL. No Quebec o governo tem tendência ao socialismo. Se você estiver desempregado você tem direito ao, aqui chamado “BS”, que seria a bolsa família do Brasil e corresponde em geral a 600,00 dólares mensais por cada adulto. Uma pessoa necessitada também terá todos os tipos possíveis de ajuda humanitária. Desde cesta de alimentos e roupas até ajuda social... Para se ter um exemplo, nestas doações, as cestas básicas, vêm em geral produtos de primeira qualidade e muitas coisas supérfluas. Você pode encontrar, além de frutas e verduras, por exemplo, sorvete, pão, iogurte, queijo, todos os tipos de sopas instantâneas e enlatados em geral, creme hidratante, creme de barbear. Tudo que você imaginar e também o que você nem imagina que possam encontrar numa cesta. Só não vai encontrar arroz e feijão...

 

27-ESTUDAR. É muito fácil conseguir bolsa de estudos, “prêt et bourse” ou seja “ empréstimo/bolsa” para fazer faculdade ou algum curso profissionalizante. O “prêt et bourse” é o seguinte: uma parcela maior é de bolsa e a outra é de empréstimo que você pagara em suaves parcelas depois de terminar os estudos. Mesmo assim é inacreditável como as pessoas não usufruem deste beneficio. Talvez o problema seja que viver como estudante aqui é considerado muito sacrificante. O estudante estará abaixo da linha da pobreza, veja só: Pedindo o prêt et bourse o estudante ganha (se estiver apenas estudando, sem trabalhar) entre 700,00 e 1200 (caso tenha filhos) mas em qualquer emprego com salário mínimo você poderá ganhar muito mais e vivera bem, garanto!

 

28- BILINGUISMO. Aqui se fala duas línguas: uma oficial da província e necessária para conversar com as pessoas, o francês; e outra exigida na maioria das profissões e nos locais de trabalho (e também necessária para se comunicar com o resto do Canadá), o inglês. Isso por um lado é muito legal. Mas por outro é confuso e atrasa sua vida. Na verdade o problema entre francês e inglês é mais complicado do que parece. É uma antiga guerra entre franceses e ingleses para colonizar o país, mas que se perpetua até os dias de hoje. É na verdade o calcanhar de Aquiles do Quebec. Para o governo da província o importante é o francês e para o governo federal o inglês. Existem canais de TV em francês e outros em inglês, mas não tem legenda em nenhum dos dois. Existem filmes canadenses em inglês e em francês. Enfim, existe um visível e desconfortável conflito entre Quebec e Canadá. Então ou você esta de um lado, ou esta do outro, ou você é imigrante!

Ottawa- Imigrantes "turistando"

 29- IMIGRANTES. Aqui é quase zero o número de imigrantes ilegais. Em geral todos os imigrantes passaram pelo processo de imigração para estar aqui. Existem basicamente três tipos diferentes de imigrantes; 1-os trabalhadores qualificados e empreendedores, como o nosso caso e a maioria de todos os brasileiros que vivem aqui. 2-O agrupamento de família; pessoas que vivem aqui e querem, por exemplo, trazer alguma pessoa da família como mãe e filhos e 3- os refugiados que são pessoas que por algum motivo grave pediram abrigo ao Canadá.

30-GOVERNO E POPULAÇÃO. Como na maioria, ou em todos os países do mundo, o governo e a população andam paralelos. A maioria das pessoas não sabe o que esta acontecendo na política e também não se interessa muito. E existe corrupção e maus políticos aqui e no mundo inteiro. A diferença é que aqui quando as pessoas ouvem alguma coisa que lhes interessam elas vão às ruas e lutam. Muitas vezes conseguem e as coisas caminham de maneira geral muito bem. Mas o fato é que uma grande maioria da população desconhece o processo de imigração. Eles não sabem que o governo canadense depende de imigrantes para continuar crescendo e movimentando a economia. Eles não fazem a mínima ideia que o governo do Quebec e do Canadá fazem grande publicidade no Brasil convidando profissionais para virem morar aqui como trabalhadores qualificados. E sim, muitos quebecois têm preconceitos, principalmente dos refugiados e dos árabes especialmente os muçulmanos, mesmo que tentem ser discretos com relação a isso.


31-GENTILEZA, RESPEITO E DISTÂNCIA. As pessoas são em geral gentis; dão bom dia, se desculpam e agradecem com frequência. Mas não são pacientes. Ao contrário, você vai ver muito gente fazendo cara feia e poucos sorrisos. Eles não gostam de muita aproximação, nem muita intimidade. As pessoas daqui vão ser educada com você vão te respeitar, mas dificilmente vão ser suas amigas. Os francófonos costumam fazer amigos na infância e apesar de solidários e atenciosos eles não se misturam, são sim muito fechados. E fumam muito.

Luiza à Île-des-Soeur
32-TRABALHO E VIDA PESSOAL. Eles têm o dom de delimitar muito bem vida profissional, trabalho, vida pessoal e lazer. E sabem respeitar o seu lazer também. Caso você queria viajar, você pode pedir para se ausentar do serviço por alguns dias sem problema. Se não forem suas férias, ou licença, você não vai receber, mas pode sair e quando voltar estará no cargo novamente.

33-ADEUS INTOLERÂNCIA, ARROGÂNCIA E PRECONCEITO. Não venha com preconceito e não se sinta superior a ninguém, aqui a arrogância não tem vez. Todos têm direitos e deveres iguais. Mesmo um poderoso e rico empresário vai entrar na fila do banco se precisar falar ao atendente. Se por acaso você estiver na frente dele ele vai esperar você ser atendido primeiro. Sim, você será tratado como ser humano independente da sua conta bancaria, do seu credo, da sua opção sexual, da sua classe social e de sua profissão. Aqui você será respeitado, será ouvido e terá seus direitos resguardados.

34- CURIOSIDADES.
- A maioridade penal, 12 anos.
-Casamento gay foi legitimado a mais de 10 anos atrás.
- A maconha pode ser produzida e consumida para fins terapêuticos.
- Sistema político: democracia parlamentar e monarquia constitucional (Rainha Elisabeth II da Inglaterra como chefe de estado e Stephen Harper como primeiro ministro)
-O Canadá é o segundo maior país do mundo mais sua população é de apenas 34.300.083 hab.

Depois de escrever isso tudo começo a concluir uma coisa sobre mim mesma: Eu sou forte como o norte e alegre e "cool" como o Sul. (rsrrs..)

02 outubro 2013

CANADA -QUEBEC: Dicas de intercambio para estudar ou trabalhar

Você pensa em fazer intercambio para estudar ou trabalhar no Canada, seja aqui em Montreal ou qualquer outra cidade?
Então leia as dicas abaixo e se souber que pode interessar mais alguém compartilhe! : )

MONTREAL  província de QUEBEC- CANADA

Algumas pessoas já me perguntaram sobre como vir estudar ou trabalhar temporariamente (fazer estágios e coisas do tipo) no Canada. Como eu vim como imigrante no quesito "trabalhador qualificado", eu tenho pouca experiencia nesta área. (Sobre imigração leia : Imigração Quebec-Canadá: informações gerais  ) 

Complexe Olympique Montreal


Mas por outro lado, depois de estar aqui eu decidi estudar, (na verdade no inicio precisei estudar para aperfeiçoar o idioma, mas depois quis dar continuidade com outros cursos que achei pertinente para minha vida profissional). Então tive oportunidade de ver que as escolas e universidades Canadenses (Quebecois - província que eu vivo) são excelentes! E acredito que vale mesmo muito a pena o investimento!




Estudar no exterior é sempre uma excelente experiência de vida, uma grande oportunidade, além de dar um up-grade no seu currículo! Vou publicar então umas sugestões de pesquisa que poderão ajudar os interessados a embarcar nesta recompensante aventura. 

Eu ao centro com minha primeira turma de francês na UdeM

Existem programas específicos para estudantes estrangeiros nas Universidades, sejam cursos de férias, durante o verão daqui, que é um julho ou cursos de longa duração. Nestes cursos de verão, com duração em geral de dois a três meses, você pode aprender ou melhorar uma das duas línguas faladas no país; inglês ou francês, ou escolher algum outro curso de verão oferecido pela universidade. Mas existem inúmeros outros tipos de cursos universitários com diferentes tempos de duração que são bacharel, mestrado, doutorados, MBA etc...



Université de Montréal - UdeM



As (mais bem conceituadas) universidades de Montreal são:UdeM , UQAM, Mcgill, Concordia University .
Para estudar numa das Universidades no Québec você pode entrar em contato direto com elas pelo site.

Na UdeM (Université de Montreal) tenho dois amigos, uma de BH que mora aqui, Sirléia Rosa , e outro que ja morou aqui e agora mora em Divinópolis, Rogério Bilheiro. Eles poderão te dar explicações sobre o assunto em português! :  ) Outras universidades você terá que se comunicar em francês ou inglês.

 
Existem ainda curso profissionalizantes de pequena duração, ou curso de idioma  (inglês ou francês) em diversas escolas particulares como por exemplo a YMCA  e o  College Platon .



Plateau Mont-Royal- Montreal



No mais uma boa ideia é procurar por empresas especializadas no assunto.

A empresa Hi Bonjour, tem um programa de intercambio com pacotes incluem programas para adolescentes, jovens, família e também terceira idade. 

Outra empresa com excelentes programas de intercambio é a JAP - Junior, Adults & Professionals Studies. Jap é uma empresa Online, de empresários brasileiros situada na Inglaterra. Ela tem programa para qualquer país do mundo e com preços muito competitivos. A empresa é da família de uma amiga de Belo Horizonte que mora aqui em  Montreal Rita Pagano.


 



Além dos links que tem no texto veja também estas dicas de pesquisa complementares: 

Japs intercambio informaçoes em português: (ligação com custo local):
RJ: (21) 4042-6770- SP : (11) 3042-9667 Curitiba (41) 3941-2671 e BH (31) 4042-3038  ou por e-mail:
info@japstudies.com

Faceboock:
https://www.facebook.com/UniversitedeMontreal
 https://www.facebook.com/groups/udembrasilcanada/
https://www.facebook.com/ConcordiaUniversity?fref=ts
https://www.facebook.com/McGillUniversity?fref=ts
https://www.facebook.com/uqam1?fref=ts
https://www.facebook.com/hi.bonjour.9
               
Visita ao Parlamento Canadense em Ottawa com a turma do curso de ingles








                              Espero ter ajudado!
                                    Boa SORTE!!

21 agosto 2013

NOS TEMPOS DA CAROCHINHA




Aproveitando meus últimos dias de férias, e um tempinho de necessário repouso, fui fuçar em alguns álbuns que trouxe. Pensei em selecionar algumas fotos de viagens que eu fiz pelo Brasil... queria matar um pouco a saudades e fazer planos. Queria saber quais lugares eu ainda preciso conhecer e quais eu gostaria de voltar, sem contar com os destinos certos em MG; Belo Horizonte, Boa Esperança e Luz. Mas rapidamente constatei que não havia trazido todos os meus álbuns. Foi impossível trazê-los na mala e foram retirados num ultimo momento pelo peso excessivo. Bom, os planos de viagem ficam para outra vez... as fotos que eu encontrei foram até mais interessantes e uma inesperada nostalgia veio me visitar...


Meu pai Noé, minha mae Iva e eu poucos dias depois de chegar ao mundo...

Antes de imigrar eu estive em Luz separando nossos álbuns de infância. Como todas nós moramos longe, certamente cada uma de minhas irmãs iria querer uma parte. Digitalizei e imprimi as fotos em comum e separarei as individuais... um trabalhão, diga-se de passagem. Mas nem cheguei a apreciar o trabalho e na correria da partida coloquei todas as minhas fotos de infância num envelope e as guardei na mala, planejando organizar este álbum num momento oportuno. Mas como era de se esperar o momento oportuno sempre demora...


Minha mae e eu fantasiada para o Carnaval
Depois da euforia das lembranças... na verdade muitas das fotos nem tenho recordações do dia, algumas anotações me ajudaram e algumas lembranças apareceram... muitas boas, a maioria até, mas outras nem tanto... é normal! Comecei a selecionar algumas que eu achei legal e a pensar o que escreveria sobre elas. Se tem uma coisa que eu gosto de fazer, além da minha profissão, é escrever e fotografar. Simplesmente amo! Não tem explicação... Escrevi a vida inteira, sempre tive diários, montei álbuns de lembranças, na época não existia ainda o scrapbook, (nem preciso mencionar os blogs!) mas eu já fazia meu diário em fotos, pequenas lembranças diárias e palavras. Também gosto de refletir sobre ideias, para mim às vezes é importante mudar a forma de ver as coisas, às vezes é até vital! Se podemos ver todas as mudanças fora de nós, certamente podemos vê-las dentro também, basta que haja um pequeno esforço. Estamos em constante evolução e em muitos casos precisamos criar um novo conceito para as coisas, senão petrificamos num tempo enquanto a vida passa. A igreja muda, a sociedade muda, o mundo muda, nós também mudamos, ou melhor, temos que mudar não só o corpo físico, mas nossa maneira de pensar, de ver as coisas. Até nossos valores mudam, é natural que seja assim... só não devemos deixar que mude para pior pois o perdedor será sempre nós mesmos, isso é fato! 


Fiquei algum tempo pensando se deveria me expor tanto, e qual mal poderia me acontecer postando minhas fotos assim num meio nem sempre todo favorável. Depois a resposta veio. Qualquer um está exposto à maldade alheia, porque na maioria das vezes ela vem de dentro do seu meio, das pessoas que lhe conhece. Não sou nenhuma celebridade nacional, talvez até já tenha sido numa pequena cidade com alguns mil habitantes, há muitos anos atrás, onde minha família foi rica, poderosa e influente. Mas os tempos mudam... o que foi passado passou, e há muito tempo os tempos são outros. Então não há porque deixar de me divertir contando minhas histórias e conversando com os amigos que quiserem partilhar comigo estes momentos. Sempre a luz dos que as tem é mais forte que a escuridão dos que não as tem. E assim me dou por convencida.



Em Brasília com meu ursinho querido,  Júnia e a prima Helena
Sinto-me privilegiada pelo fato de meu pai gostar de viajar e desde muito novinha me levar para vários passeios que se tornariam inesquecíveis. Conheci o Rio de Janeiro antes mesmo do meu primeiro ano de vida, fui a Brasília, São Paulo, e muitas, muitas praias, mas sempre no litoral de São Paulo, Rio ou Espírito Santo, outros lugares só conheci bem mais tarde. Eram assim nossas férias: - Janeiro no litoral sudeste e julho em Boa Esperança na casa de minha vó paterna com meus primos e tios. Uma farra!! A cada foto de férias que fui encontrando, a família ia aumentado... primeiro apenas eu, depois veio a Júnia, a Poliana e finalmente a Sabrina. Quatro mulheres, como escadinha. Temos pouca diferença de idade, eu e a Júnia somos exatos 1 ano e treze dias de diferença. O intervalo demorou um pouco com a Poliana e de mim para Sabrina passaram-se sete anos.



Boa Esperança no quintal da vovó
Gosto de me divertir com os nomes das cidades das quais fizeram minha vida, isso me faz sentir especial, todo mundo tem que achar alguma coisa para se sentir importante no mundo, mesmo que não tenha a menor lógica nem faça o menor sentido para ninguém. Mas estou falando da minha infância, da minha origem e posso florear um pouco (rsrsrs). Meu pai veio de Boa Esperança (sul de Minas) e minha mãe nasceu em Luz (oeste de Minas) então posso pensar que sou uma pessoa de Luz e Esperança, boa claro! E que um dia fui ver o havia depois das montanhas onde nasceu o (rio) São Francisco e acabei encontrando um Belo Horizonte. So até ai é romântico pensar, sobre o Canadá é outra historia e eu ainda não sei o que dizer. (rsrsr) 

Foi com este olhar romântico, meio piegas ate, que fui aos pouquinhos lembrando o que eu mais gostava o que me divertia e como eu tive mais momentos felizes que tristes, apesar deles existirem também. A vida sempre tem percalços... naquela época vivíamos a ditadura militar e eu particularmente senti os efeitos dela. Não que eu tivesse assim esta consciência nem que tivesse sido parte principal em alguma coisa (era apenas uma criança). Mas meu avô materno foi líder regional de um partido que se chamava Arena - Aliança Renovadora Nacional - uma junção de partido criado em 1965 para apoiar o golpe militar no Brasil. Ele morreu alguns meses depois que eu nasci, no ano de 1971. O partido felizmente acabou alguns anos depois. Meu avô também não era nenhum Sarney (só pensar o nome me da náusea e fazer esta comparação me parece ridícula, mas fiz).... muito pelo contrário, na nossa região foi um homem de bem, era generoso e deixou muitas benfeitorias na cidade. Mas era também um coronel, não do exército, mas daqueles que herdaram a patente que foi comprada na época que os imperiais do Brasil começaram a vender seu sangue azul (pois estavam empobrecendo) para a burguesia rica que precisava deste título para se tornar nobre... parece até historia da Carochinha mas não é! 


Minha primeira viagem
Meu avô não fez nenhum parente, nem filho político, apenas um genro o tio Lanier foi prefeito de Luz por algumas vezes, enquanto meu avo era vivo, nem sei se era do mesmo partido. Talvez o fato dele ter morrido de enfarto pouco tempo depois de ter sido traído de maneira desonesta em uma eleição possa explicar um pouco esta rejeição a política pelos seus descendentes. Mas enfim, meu avô tinha influencia para nomear pessoas e garantir benefícios em favor da cidade. Embora eu possa dizer com orgulho que apesar de ir contra seu pai que achava que mulher não podia fazer faculdade, minha mãe fez, e todos os cargos que ela exerceu foi através de concurso publico. Se teve autoridade foi por mérito próprio. Na época mulheres não podiam trabalhar, usar calça comprida e todas aquelas babozeiras que conhecemos. Meu avô era moderno para muitas coisas, tinha carro e andava de motorista, numa época que andar de trem ainda era chic, mas não tão moderno para deixar minha mãe estudar além do curso normal. 


Dentre outras coisas, o antigo campo de aviação da cidade, famoso na minha época de criança, é uma parte do que hoje é cidade e foi doada à igreja (naquela época era importante deixar bens para a paróquia). Até onde eu vi este terreno tinha sido loteado e vendido pela Mitra Diocesana. Virou um bairro popular entre a faculdade e a Br 262. Mas nada do que se foi feito tem importância agora, seus valores ficaram no passado, a nós restou a herança material, espiritual, genética e claro, algumas histórias. Em sua homenagem só restou uma avenida com seu nome e a saudade da família, ninguém desta nova geração ouviu falar quem foi Guarim Caetano Fonseca. 


Mas enfim, a influência teve vantagens e também desvantagens, por isso posso falar que conheço as consequências negativas de ter um nome de peso numa sociedade pequena. Não conheci o “reinado” de meu avô, eu cheguei quando tudo começava a ser dividido entre doze filhos, uma esposa e a igreja ou a cidade. Mas conheci a decadência da sociedade elitista e tradicional, pois cresci vendo uma população oprimida crescer, a cidade expandir e as pessoas reivindicarem direitos iguais. Então conheço bem o que é inveja, olho gordo, raiva e vingança, e sei que isso vem sempre dos que conhecemos, ou dos que nos conhecem (mesmo sem a gente conhecê-los). E, dificilmente podemos evitar o ódio gratuito, assim como não podemos evitar nossas heranças e os ranços políticos do passado. Então, mesmo que às vezes de maneira sofrida eu aprendi a não temer, mas conhecer, respeitar (não desdenhar) a maldade alheia e a aceitar quem eu sou e de onde eu vim com resignação.



Rodrigo (primo) e eu na 1 Comunhao
Luz era uma cidade pequena e tranquila, ainda é na verdade. Sede de bispado que coordena 36 cidades e contendo umas das únicas catedrais no Brasil em homenagem a Nossa Senhora da Luz. A religião tinha, e ainda tem, grande influência na vida de todas as pessoas que nasceram ou vivem lá. Naquela época a cidade seguia um ritmo ainda lento ao som das badalas do sino da igreja e do hino nacional nas primeiras horas da manhã cantado com a mão no peito em fila indiana sob o sol na entrada da escola. Rezar no início de cada aula não era obrigatório, mas natural, o de praxe. Também vivíamos na época da obediência burra e cega. Autoridade era quase Deus! Não precisamos amar os pais embora fosse inevitável, apenas respeita-los e obedecê-los era suficiente para vê-los contente conosco, a cartilha dizia apenas; “Amei a Deus sob toas as coisas e honrai pai e mãe”.



Ultima matiné de Carnaval no Clube Social de Luz
Eu não podia faltar à aula... mesmo doente, minha mãe achava que eu tinha que dar o exemplo de boa aluna! Não demorou muito para eu me cansar e mostrar que sou humana e não boi em confinamento, a adolescência tarda, mas não falha! (Rsrsr...) Era difícil viver com tantas obrigações absurdas, principalmente as aparências que a sociedade pedia. Não pedia felicidade, não pedia dialogo, não pedia compreensão, naquela época não muito distante, ela não queria saber quem você é mas, quem você deveria parecer ser! A rigidez militar também adentrava minha casa, poucas conversas, diálogo mesmo era com a correia! Só de pensar sinto arrepio... Muitas vezes nem sabia por que apanhava... Criança não tinha voz, não tinha vez, era obedecer e ficar quieta. Sorte nossa que nossos pais passavam um tempo enorme fora de casa trabalhando e nessas horas, mesmo com os empregados por perto, podíamos virar moleques de fundo de quintal, garantindo quase sempre um coro no final do dia... o que não parecia nos desanimar pois, no dia seguinte, começávamos tudo de novo!


Divertido mesmo eram as noites que papai resolvia vir deitar conosco e contar suas estórias... como ele era bom contador de estórias! Os dias de chuva e as estórias de D. Onça eram as melhores! Ai que medo gostoso desta maldosa vilã, a D. Onça, que nos fazia cada vez mais agarradinhos ao pai. Como nada é perfeito eu ficava chateada por ser a maior, pois nunca sobrava uma beiradinha ao seu lado para mim... a disputa sempre foi acirrada e eu sempre sai perdendo! Se não fosse eu ter tido um ano antes delas, neste caso de vantagem, eu jamais teria ganhado um colinho só pra mim. Mamãe também tinha seus truques, leu a enciclopédia “o mundo da criança” toda para mim. Contos e fabulas que delícia! Mas a estória que eu mais lembro era a do Joãozinho e Maria, cantada do seu quarto enquanto eu dormia encolhidinha no meu, para espantar meu medo que era gigantesco.



Poliana, Eu, a filha de uma amiga da minha mae e Júnia com a Sabrina no colo

   
Eu odiava o bar o Eurico onde meu pai ia algumas vezes a noite se encontrar com amigos. Nós ficávamos esperando com as babás até ele chegar (nunca muito tarde), mas suficiente para nos fazer odiar o Eurico. Pra descontar, durante o dia quando podíamos passamos na casa dele, que era ao lado do bar, tocávamos campainha e saíamos correndo! Hahahaha! O Eurico merecia! Além do mais, a casa dele era de fundo à nossa e às vezes (pois os quintais eram grandes) podíamos ouvir os berros de alguém (nunca soube quem) que morava lá. A pessoa não sabia falar e certamente tinha problemas mentais. Naquela época costumava-se esconder em casa as pessoas com qualquer deficiência mais grave. Ninguém nunca via.  Isso fez do coitado do Eurico o vilão de todas nossas estórias, ele e o Brutos, o pastor alemão do vizinho que nos matava de susto com seus latidos sempre que passávamos distraídos em frente ao portão da sua  garagem. Brutos já se foi há muitos anos e o Sr. Eurico nunca mais o vi, espero que ele nos perdoe um dia... (rsrs)


Fazenda Usina
Os momentos felizes são sempre os melhores pra se relembrar. E estes eu tenho muitos. Como quando coincidiam nossos passeios na pracinha próxima de casa com a chegada do caminhão da Coca-Cola. Era certo que o moço nos dava alguma coisa, ora uma garrafa pequena ora um litro para dividirmos com as amigas! Não sei se pela nossa insistência em ganhar ou se porque eles eram sempre bonzinhos mesmo. Mocinhas educadas, devolvíamos os cascos para garantir a próxima gentileza deles. 
Junia, Poliana, Papai com Sabrina, prima Cíntia  e eu na fazenda




Mas sem dúvida não eram tão bonzinhos como o vô Careca, Sr. Antônio (não lembro o sobrenome) um senhor amigo do papai que sempre nos dava dinheiro. Maravilha!!! Não tinha nenhuma má intenção como poderíamos pensar hoje. Era como um vô mesmo, um homem que adorava crianças e que nós o adorávamos também. Teve no meu coração o mesmo afeto que meus avôs teriam se eu os tivesse vivos. Era ele chegar e a grana para o chiclete no bar da esquina, em frente à pracinha, estava garantida. Não era o bar do Eurico. O dele ficava algumas casas adiante. Era o bar da esquina!


Para os mais antigos é fácil imaginar as cenas, mas para os mais novos imagino quanta estranheza isso. Em frente nossa casa funcionava a telefônica, e muitas vezes íamos escondidas brincar com as telefonistas. Elas nos mostravam os fios que faziam as conexões e às vezes até podíamos ligá-los quando alguém pedia uma ligação. Sou do tempo que para fazer uma ligação bastava pegar o telefone e falar para a telefonista assim: - Quero falar com a vovó! Rsrsr.... a voz certamente ela conhecia. Não deveria ter mais de uma dúzia de telefones na cidade.



Meu primeiro aniversário!


Tv, era preta e branca, só depois veio a colorida. E não éramos fissuradas na telinha não. No início dos anos 80 lembro-me da “HB 80” (Hanna Barbera), meus desenhos preferidos, também da liga da justiça e do sítio do pica-pau amarelo! Tudo de muito bom!!! Naquela época já passava sessão da tarde rsrsrs... mas não podíamos nem gostávamos de ficar assistindo muita coisa não. Aprendemos mais a inventar brincadeiras e a brincar com os amigos. Alem disso gostávamos de colecionar papéis de carta e trocá-las com as amigas; ou de colecionar tampinhas de refrigerante com os personagens do Walt Disney. Hummm...isso tem mesmo um sabor de infância! Também fiz piano, aprendi violão e pintura. Dos três só me restou a pintura e a lembrança do caderno de música, pois eu gostava mesmo era de desenhar os símbolos musicais naquelas linhas parecendo os fios de poste de iluminação. 

Uma vez eu e minhas irmãs conseguimos montar praticamente uma cidade num espaço comercial do papai que havia sido liberado por um contador que tinha tido escritório lá. Os papeis que ele deixou, serviram para o banco que a Junia administrava. Banco precisa mesmo de uma papelada! Rssr.. Tínhamos salão de beleza, advogados e um tanto de outras profissões. Eu sendo mais velha, administrava a cidade e organizava os espaços e a entrada de novos comerciantes. Todas as meninas da rua queriam brincar! No final todas tinham um negocio e ninguém tinha cliente! Conclusão, eu seria cliente de todas e quando alguém queria fazer alguma coisa tinha que fechar temporariamente seu estabelecimento. Tanta menina, claro que o salão era um sucesso! E o banco também, afinal todo mundo precisava de dinheiro.  


Eu (amarelo) e minha amiga Renata Ghader - 7 de setembro em Luz
Eu adorava ser baliza nos desfiles de 7 de setembro, aliás amava! Gostava mais do que as inúmeras apresentações de jazz, fiz ballet por vários anos, mas não achei uma foto sequer; nem dos desfiles que eu participava quase sistematicamente. Acho que eu gostava mesmo era de ficar de cabeça para baixo, de fazer pirâmides, de me contorcer para pegar o bastão e de fazer estrelas... ah quanta liberdade!!... Sair pulando e fazendo estrelas pelas ruas durante os desfiles enquanto todos marchavam em fila iguais soldados!!!



Baile de debutantes no Clube Social de Luz
De desfilar parei assim que debutei, (“debut” era uma festa que se fazia para apresentar as meninas de 15 anos à sociedade, não existe mais). Aliás o meu “debut” foi uma das últimas que teve na cidade. Dos desfiles lembro-me do frio na barriga que me dava quando eu ainda estava escondida atrás do palco, mas que quando chegava às passarelas tudo passava e era muito divertido. Socila era também passagem obrigatória de uma moça da sociedade mineira; aprender a andar, sentar, a servir bem uma mesa e a comer com elegância fazia parte da boa educação que herdamos dos franceses. 




Já participei também de concursos de dança e de uma peça de teatro quando eu era bem pequena. Bem pequena mesmo! No final na peça me pediram para dançar quando abrissem as cortinas. E tcham... eu lá no centro do palco, uma luz em cima de mim e... nada! Morri de vergonha... Agora em casa eu e minhas irmãs encenávamos sempre a peça “Montéquios e Capuletos” versão turma da Mônica!!! Era o Máximo!  E em Boa Esperança eu era a bailarina que dançava ao som do piano de minha prima Ligia, todos aplaudiam! E achavam a maior graça de eu dançar sempre nas pontas dos pés, o bale que aprendi em Luz fazia sucesso em Boa Esperança. Só para explicar; Boa Esperança era a casa da minha vó e das minhas tias, não era a cidade de Boa Esperança, era meu mundo em Boa Esperança... só quando cresci percebi melhor o diferença. Rsrs...



Nossa fui longe! Mas certamente poderia ir até mais, pois são tantas boas lembranças, boa esperança (rs) e um banho de LUZ na minha memória!... rsrs... Mas vou terminar por aqui e deixar sua imaginação te levar para o seu tempo de infância... Quanta história você poderia contar para seus filhos, sobrinhos, amigos, netos? Quanta diferença você vê da sua infância para os dias de hoje? Quanta doçura, ternura e alegria você poderia trazer destes tempos para colocar na sua vida de hoje? E quantas lembranças desagradáveis você poderia esquecer, perdoar, enfim livrar-se da dor delas?  



Para mim foi uma viagem boa e me deu a sensação de ter sido tão pouco tempo para tanta mudança, mas sei que muitas outras virão e espero estar sempre aberta para aceitar o mundo novo que ainda tenho para viver! Se você teve tempo e paciência para chegar até aqui, nem tudo mudou não é mesmo? Ainda guardamos algum tempo para escutar os amigos, então obrigada por me escutar! 



“No meu infinito particular sou pequenina e também gigante! (...) O mundo é portátil pra quem não tem nada a esconder.” (Marisa Monte)