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26 abril 2014

Meus quarentas e poucos anos...




Dizem os estudiosos que há certos momentos na vida com tendência a grandes transformações. Muitos apontam os ciclos de 7 anos ( 7, 14, 21, 28 anos...) como sinalizador de mudanças na personalidade.  Mas existem outros sinalizadores importantes de reestruturação da personalidade, como o “retorno de saturno” termo usado pelos astrólogos para definir o período entre 29 e 30 anos. Eles acreditam que é um momento onde nós nos conscientizamos de nossas características, tendências e potenciais e que pode vir acompanhada de mudanças concretas e representativas na vida.


Outra fase de transição igualmente importante é atribuída à idade entre 40 e os 42 anos. A famosa crise dos quarenta se apresenta para os estudiosos como sendo um estágio de profundas transformações onde a ideia é reavaliar como você viveu até aqui.  No texto Ciclos de vida de Isabel Mueller ela explica que este é “um momento de reavaliações de como está se vivendo a singularidade pessoal, de quanto empenho foi destinado na realização dos sonhos, de quais ideais foram deixados de lado, em nome de valores que se mostram neste momento como superficiais, vazios de um significado mais amplo.” 

Os casulos - Jardin Botanique de Montreal

Você que esta lendo isso certamente já passou por algumas destas fases de transição e talvez possa até identificar alguma mudança significativa na sua vida durante estes períodos. Mas às vezes também estes momentos passam e vão embora sem que percebamos com clareza. Num mundo corrido e cheio de obrigações não é difícil encontrar quem não dê atenção a seus barulhos internos, seja pela robotização de suas ações, por desconhecer esta necessidade ou simplesmente por não achar isso importante. Mas na minha vida estes momentos nunca passaram despercebidos. Por isso eu acredito que um pouco de conhecimento sobre as fases da vida e a consciência da transitoriedade destes momentos nos ajuda e nos faz querer alinhar com eles para tirar maior proveito dos ensinamentos trazidos.  


As chamadas crises existências nos ajudam a entender melhor nossos processos internos e nos faz sentir mais confortáveis e tranquilos para aceitarmos as inevitáveis transformações que poderemos viver a nível emocional, mental e de compreensão de nos mesmos, dos outros e do mundo. E então quando nos dispomos a nos escutar, a mudar e abrir mão do velho, do ultrapassado encontramos uma enorme chance de amadurecer, de redefinir valores, ideias e conceitos. E assim estaremos preparados para, se preciso for, redirecionar os caminhos trilhados até aqui e se preparar para uma nova fase que pode estar por vir.  Como o florescer de uma nova estação depois de um frio inverno.


É exatamente neste ponto que me encontro neste momento; entre o fechamento de um ciclo e o inicio de outro e espero conseguir alinhar o caminho e ajustar alguns pontos até o final deste mês para receber todos os benefícios do novo ciclo e dar mais um passo na estrada dos quarenta.


Talvez todo este movimento responda as perguntas que vez ou outra eu tenho me feito como, por exemplo, o porquê desta minha imensa necessidade de escrever... Porque insistir em revisitar um capítulo ou outro da minha história ou opinar sobre um assunto que eu achei relevante e perder algum tempo pesquisando, investigando e analisando um tema num mundo cada vez menos interessado no que outro tem a dizer. 


Porque eu continuo insistindo em provocar reflexões e porque elas parecem ser mais intensas em mim que nos outros? Para que tanto investimento em recortar os pedaços da minha história, em sublinhar o que me dá vida, a ilustrar meu ponto de vista e a reinventar minhas verdades? Rubens Alves uma vez disse “As ostras produzem pérolas para deixar de sofrer, e em muitas de minhas histórias eu fui à ostra que produziu a pérola, pois tinha um grão de areia que me cortava...”

foi aí que encontrei a melhor resposta.   
Muitas vezes é escrevendo que sou capaz de ser ostra e transformar meu grão de areia em pérola.  E assim tudo isso faz muito sentido pra mim. Organizar minhas informações, investir nas minhas descobertas, arrumar lugar para minhas ideias, meus pensamentos e falar de tudo isso me faz muito bem! Eu me sinto feliz e ao mesmo tempo tão mais leve...  Mesmo que o mundo continue tão desinteressado e eu tão comprometida, tão cheia de questões, tentando achar respostas mais adequadas e me desafiando a lidar comigo mesmo o tempo todo.


"Papillon Monarque"- Espace pour la vie -  Montreal


A verdade é que quanto mais a gente conhece sobre as coisas e sobre nós mesmos, mais a gente a gente quer conhecer. E assim quando uma pergunta é respondida, novas perguntas surgem e a gente acaba entendendo que o que importa é querer saber e aprender cada vez mais e não apenas ter resposta para tudo. Até mesmo porque algumas perguntas podem ter várias respostas e outras ficarão sem ela. E entre correr o risco de ser uma pessoa que está sempre procurando defeito na vida alheia e que tudo que tem a dizer é sobre os outros e o risco de me expor e de ser mal interpretada ou criticada, eu ainda fico com a segunda opção. Na primeira além de não ajudar ninguém eu ainda posso prejudicar bastante e na segunda eu me ajudo a me compreender melhor e talvez, quem sabe, inspire os outros a fazerem o mesmo. Se cada um fizer sua parte teremos mais pessoas dispostas a julgar menos e a olhar com mais compaixão uns aos outros.  


Às vezes tenho a impressão que todo mundo tem opinião formada sobre tudo e que todos tem cada vez menos tempo para escutar e principalmente para refletir sobre algo. Enquanto eu cada dia com mais sede de saber, de conhecer, de aprofundar, de discutir, de ouvir argumentos inteligentes que me estimulem a ir ainda mais longe, e cada vez com menos vontade de escutar opiniões levianas, assuntos fúteis e imbecilidades nascidas do sarcasmo, da inveja, do egoísmo, do preconceito e da ignorância.

A grande ironia disso tudo é que todo mundo quer ser feliz e quer viver num mundo melhor...  todo mundo quer alguma mudança. Mas poucos estão dispostos a dar um minuto do seu tempo para fazer as mudanças internas necessárias para a transformação do mundo. Poucos têm coragem de olhar para dentro de si, e ver onde estão suas faltas. E assim um dos grandes desafios do ser humano, não é combater o mal no outro e sim conhecer o mal em si.  


O autoconhecimento é nosso grande desafio! Ricardo Lindemann lembra em um de seus discursos que “A causa de todo sofrimento, a causa de todo mal é a ignorância.” E ele completa: “Então nada pode ser mais importante do que algo que nos liberte do sofrimento. Sem conhecimento como vamos nos libertar?”.
Às vezes a própria vida te coloca um desafio, um momento de crise, uma doença, uma tragédia, uma perda e não temos outra escolha senão encarar o desafio... então que este desafio seja um momento de crescimento de renovação, de auto avaliação e de mudanças positivas. 


Mas para saber o que precisa ser mudado só existe um caminho a percorrer o do AUTOCONHECIMENTO


Meus vinte e poucos anos...  Chapada Diamantina- Bahia - Cachoeira da Purificação


Quanto eu tinha uns vintes e poucos anos, durante uma das vivências de autoconhecimento que eu frequentei tirei na sorte estas palavras: “conhece-te a ti mesmo”. Era a primeira vez que eu ouvia aquelas palavras pinçadas da frase do oráculo de Delfos escrita pelos setes sábios há mais ou menos 650 anos antes de Cristo que diz: “Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo.


Confesso que não era exatamente o que queria ouvir. Fiquei frustrada. Mas eu me conheço, pensei! Na verdade eu queira uma resposta concreta, uma resposta pronta para as questões que eu tinha no momento e ele me mostrou um caminho a percorrer... nunca me esqueci disso! Hoje, a beira de completar meus quarenta e poucos anos, eu entendo que esta é a única resposta possível quando falamos de crescimento pessoal e de evolução da humanidade!


Não existem respostas prontas. Na verdade não existe um mapa ou um único caminho a seguir. A vida é um projeto individual e único para cada um. Neste projeto construímos nossas historias, baseadas nas nossas escolhas de ordem moral, ética e nossas influências familiares e culturais. Durante nosso percurso nós podemos ou não evoluir a partir de nossos erros, podemos ou não melhorar nosso modo de ser, pois tudo isso faz parte de nossas decisões pessoais, nosso livre árbitro. Na verdade só crescemos quando nos dispomos a isso. 


Uma das coisas que aprendi nestes dias, e a que mais me surpreendeu, foi quando entendi que “A verdadeira luta não é entre o bem e o mal; a verdadeira luta é entre a sabedoria e a ignorância.” A princípio eu quis contestar, o que é natural em todo ser humano quando um de nossos paradigmas é posto em cheque. Mas depois me pus a pensar...


Para nós criados no cristianismo é mais fácil compreender através da historia de Jesus. Em uma de suas conhecidas falas Jesus disse: “vade de retro satanás.” Em outras palavras, vai atrás, recue. O que nos faz concluir que Jesus não veio acabar com o mau. Ele não veio lutar contra o mau, se fosse assim sua missão teria sido um fracasso. O que não é verdade. A missão de Jesus foi espalhar conhecimento para que possamos discernir; para que possamos decidir entre praticar o bem ou o mau; para que possamos decidir entre julgar nossos semelhantes ou aceitar suas escolhas diferentes; entre discriminar as pessoas ou acolhê-las; entre destilar o ódio ou espalhar o amor. 


Ele veio para mostrar como se faz. Não com palavras vazias, mas com ações concretas. E, apesar de hoje existirem tantas pessoas repetindo suas palavras, poucos se preocupam em seguir seus passos. A maioria está preocupada apenas com a aparência. E cada vez mais temos visto grupos religiosos se fecharem em ciclo e se distanciarem uns dos outros acirrando as disputas entre dogmas e religiões; entre certos ou errados;  entre puros ou impuros. E cada um querendo provar que o seu Deus é o mais poderoso. E poucos interessados em se encantar com a riqueza e a diversidade das moradas do Pai...

Espace pour la vie- Jardin botanique de Montreal


Nas palavras do filósofo grego Aristóteles:  "O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete."



Um autor desconhecido escreveu uma frase que tem muito haver comigo. E é com ela que vou terminar meu texto de hoje:
Não vim a este mundo para competir com ninguém. Quem quiser competir comigo perde seu tempo. Estou neste mundo para competir comigo mesma. Ultrapassar meus limites, vencer meus medos, lutar contra meus defeitos, superar dificuldades correr em busca dos meus objetivos. E tudo isso já me ocupa bastante tempo...”  




E que assim seja para todos que tem coragem suficiente para libertar de sua ignorância!







Ps.: Sabedoria no dicionário: dom que nos permite discernir qual o melhor caminho a seguir, a melhor atitude a adotar nos diferentes contextos que a vida nos apresenta. E ignorância do latim “no saber”. Ignorante é aquele que ignora que não tem conhecimento. A ignorância se refere à falta de sabedoria e instrução sobre determinado tema, ou ainda à crença em elementos amplamente divulgados como falsos.  


Se você  chegou até aqui e perdeu alguns minutos para ler o que eu escrevi mais uma vez, ou pela primeira vez, meu muito obrigada!... Obrigada por me escutar. Obrigada pelo seu tempo e pelo seu carinho... e que o dia do meu e do seu aniversário (seja quando for) seja sempre motivo de comemoração e de alegria!


Para quem se interessa pelo assunto autoconhecimento e busca da felicidade, veja a seguir o trailer do filme "Eu Maior" : 




Para ver o filme completo clique aqui:
EU MAIOR