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02 junho 2014

Oba 15 graus!! Vai dar praia, churrasco e um rolezinho no parque!



Rolezinho no Vieux Port de Montreal - eu e minha filha Luiza


Quando eu ainda morava no Brasil, sempre ficava imaginando como seria interessante viver num lugar onde poderíamos vivenciar as quatro estações do ano; outono, inverno, primavera e verão. Engraçado dizer isso mas na verdade a não ser pela mudança das flores à cada estação e das diferenças no clima, dificilmente percebemos as estações no Brasil com tanta intensidade como a percebemos no Canadá.

Aqui temos duas estações opostas bem definidas; o inverno com temperaturas abaixo de -20 e o verão com temperaturas em torno de 30! As outras duas estações são de transição. O outono quando as folhas mudam de cor e depois caem e o país se transforma num festival de cores mundialmente conhecidas e a primavera.


Ah! A primavera... Posso dizer que a primavera é a estação mais esperada do ano!



A Primavera é a estação do reflorescimento, do rejuvenescimento, do renascimento. Nosso coração se enche de alegria na expectativa de uma estação quente e cheia de vida. E como é bom ver a natureza se refazer em cores, em folhas... em flores!

Dia 20 de março é o marco inicial da primavera boreal e seu fim se dá dia 21 de junho, sucedido pelo verão. 

O início da primavera começa com uma grande oscilação na temperatura.  Aqui se diz que até abril não se deve guardar nenhuma peça de roupa do inverno, e é verdade. Um dia pode fazer 10 graus e no outro a temperatura pode cair novamente pra -5. 


Festival das Tulipas  em Ottawa
Na primavera tem sempre aquela ultima neve que insisti em cair apesar da forte torcida contra.  E então vamos fazendo nossas apostas como em decisões de futebol.   

Quem acertará o dia que ele, o sol e as altas temperaturas, se firmarão radiantes e onipresentes tomando conta da estação? Em geral o ganhador apontou um dia no final de abril, pois é só por aí que a temperatura começa a se firmar sempre positiva, mas ainda variando entre dias de pleno sol e dias de chuvas.


É sempre assim... a primavera é conhecida pelo seu início consagrado à briga entre o frio do inverno que quer dar seu ultimo até logo e o calor do verão que insiste em tomar seu lugar. 


E o que importa isso se no final sempre somos vencedores! E o prêmio é a vida que se refaz num piscar de olhos, como do dia pra noite. É a grama que passa de um amarelo ocre acinzentado para um verde vivo, e as primeiras folhinhas que se desenrolam das arvores até então secas... São os pássaros que voltam a cantar e os esquilos que agora brincam entusiasmados de pique esconde nos galhos das arvores.


E não é só a natureza que fica em festa não... Os primeiros quinze graus do ano são de pura alegria!!! E sim, pode dar praia... pra quem quiser dar um pulinho em Oka e se estender na areia. E com certeza vai dar churrasco, piquenique ou um rolezinho no parque! A alegria é contagiante...  É um daqueles dias que você se sente como Zeca Baleiro com seu telegrama bem no gênero
Luiza e as tulipas vermelhas


“Hoje eu acordei com uma vontade danada
De mandar flores ao delegado
De bater na porta do vizinho,
e desejar bom dia,
De beijar o português da padaria...”


Sim dá uma vontade de desejar BOM DIA, BONJOUR, GOOD MORNING! Com todas as letras, em alto e bom som!... pois só o que se vê são sorrisos largos, gente feliz caminhando prazerosamente pelas ruas, ou esticada nos parques e praças e a gritaria das crianças subindo e descendo nos brinquedos coloridos.


A fumaça antes das chaminés agora sai das churrasqueiras nos quatro cantos da cidade. E você corre o risco de se pegar conversando animadamente sobre o tempo com um desconhecido no ponto de ônibus... é a onda da alegria que não consegue se conter. 


Verdade é que todo mundo sente esta boa energia, esta vontade de sair do casulo com roupas leves e sentir o sol na pele e se deixar contagiar com a vida que agora pulsa sobe o calor do sol. 



Então que seja muito bem vinda esta nossa linda, alegre  e cheirosa primavera!!





26 abril 2014

Meus quarentas e poucos anos...




Dizem os estudiosos que há certos momentos na vida com tendência a grandes transformações. Muitos apontam os ciclos de 7 anos ( 7, 14, 21, 28 anos...) como sinalizador de mudanças na personalidade.  Mas existem outros sinalizadores importantes de reestruturação da personalidade, como o “retorno de saturno” termo usado pelos astrólogos para definir o período entre 29 e 30 anos. Eles acreditam que é um momento onde nós nos conscientizamos de nossas características, tendências e potenciais e que pode vir acompanhada de mudanças concretas e representativas na vida.


Outra fase de transição igualmente importante é atribuída à idade entre 40 e os 42 anos. A famosa crise dos quarenta se apresenta para os estudiosos como sendo um estágio de profundas transformações onde a ideia é reavaliar como você viveu até aqui.  No texto Ciclos de vida de Isabel Mueller ela explica que este é “um momento de reavaliações de como está se vivendo a singularidade pessoal, de quanto empenho foi destinado na realização dos sonhos, de quais ideais foram deixados de lado, em nome de valores que se mostram neste momento como superficiais, vazios de um significado mais amplo.” 

Os casulos - Jardin Botanique de Montreal

Você que esta lendo isso certamente já passou por algumas destas fases de transição e talvez possa até identificar alguma mudança significativa na sua vida durante estes períodos. Mas às vezes também estes momentos passam e vão embora sem que percebamos com clareza. Num mundo corrido e cheio de obrigações não é difícil encontrar quem não dê atenção a seus barulhos internos, seja pela robotização de suas ações, por desconhecer esta necessidade ou simplesmente por não achar isso importante. Mas na minha vida estes momentos nunca passaram despercebidos. Por isso eu acredito que um pouco de conhecimento sobre as fases da vida e a consciência da transitoriedade destes momentos nos ajuda e nos faz querer alinhar com eles para tirar maior proveito dos ensinamentos trazidos.  


As chamadas crises existências nos ajudam a entender melhor nossos processos internos e nos faz sentir mais confortáveis e tranquilos para aceitarmos as inevitáveis transformações que poderemos viver a nível emocional, mental e de compreensão de nos mesmos, dos outros e do mundo. E então quando nos dispomos a nos escutar, a mudar e abrir mão do velho, do ultrapassado encontramos uma enorme chance de amadurecer, de redefinir valores, ideias e conceitos. E assim estaremos preparados para, se preciso for, redirecionar os caminhos trilhados até aqui e se preparar para uma nova fase que pode estar por vir.  Como o florescer de uma nova estação depois de um frio inverno.


É exatamente neste ponto que me encontro neste momento; entre o fechamento de um ciclo e o inicio de outro e espero conseguir alinhar o caminho e ajustar alguns pontos até o final deste mês para receber todos os benefícios do novo ciclo e dar mais um passo na estrada dos quarenta.


Talvez todo este movimento responda as perguntas que vez ou outra eu tenho me feito como, por exemplo, o porquê desta minha imensa necessidade de escrever... Porque insistir em revisitar um capítulo ou outro da minha história ou opinar sobre um assunto que eu achei relevante e perder algum tempo pesquisando, investigando e analisando um tema num mundo cada vez menos interessado no que outro tem a dizer. 


Porque eu continuo insistindo em provocar reflexões e porque elas parecem ser mais intensas em mim que nos outros? Para que tanto investimento em recortar os pedaços da minha história, em sublinhar o que me dá vida, a ilustrar meu ponto de vista e a reinventar minhas verdades? Rubens Alves uma vez disse “As ostras produzem pérolas para deixar de sofrer, e em muitas de minhas histórias eu fui à ostra que produziu a pérola, pois tinha um grão de areia que me cortava...”

foi aí que encontrei a melhor resposta.   
Muitas vezes é escrevendo que sou capaz de ser ostra e transformar meu grão de areia em pérola.  E assim tudo isso faz muito sentido pra mim. Organizar minhas informações, investir nas minhas descobertas, arrumar lugar para minhas ideias, meus pensamentos e falar de tudo isso me faz muito bem! Eu me sinto feliz e ao mesmo tempo tão mais leve...  Mesmo que o mundo continue tão desinteressado e eu tão comprometida, tão cheia de questões, tentando achar respostas mais adequadas e me desafiando a lidar comigo mesmo o tempo todo.


"Papillon Monarque"- Espace pour la vie -  Montreal


A verdade é que quanto mais a gente conhece sobre as coisas e sobre nós mesmos, mais a gente a gente quer conhecer. E assim quando uma pergunta é respondida, novas perguntas surgem e a gente acaba entendendo que o que importa é querer saber e aprender cada vez mais e não apenas ter resposta para tudo. Até mesmo porque algumas perguntas podem ter várias respostas e outras ficarão sem ela. E entre correr o risco de ser uma pessoa que está sempre procurando defeito na vida alheia e que tudo que tem a dizer é sobre os outros e o risco de me expor e de ser mal interpretada ou criticada, eu ainda fico com a segunda opção. Na primeira além de não ajudar ninguém eu ainda posso prejudicar bastante e na segunda eu me ajudo a me compreender melhor e talvez, quem sabe, inspire os outros a fazerem o mesmo. Se cada um fizer sua parte teremos mais pessoas dispostas a julgar menos e a olhar com mais compaixão uns aos outros.  


Às vezes tenho a impressão que todo mundo tem opinião formada sobre tudo e que todos tem cada vez menos tempo para escutar e principalmente para refletir sobre algo. Enquanto eu cada dia com mais sede de saber, de conhecer, de aprofundar, de discutir, de ouvir argumentos inteligentes que me estimulem a ir ainda mais longe, e cada vez com menos vontade de escutar opiniões levianas, assuntos fúteis e imbecilidades nascidas do sarcasmo, da inveja, do egoísmo, do preconceito e da ignorância.

A grande ironia disso tudo é que todo mundo quer ser feliz e quer viver num mundo melhor...  todo mundo quer alguma mudança. Mas poucos estão dispostos a dar um minuto do seu tempo para fazer as mudanças internas necessárias para a transformação do mundo. Poucos têm coragem de olhar para dentro de si, e ver onde estão suas faltas. E assim um dos grandes desafios do ser humano, não é combater o mal no outro e sim conhecer o mal em si.  


O autoconhecimento é nosso grande desafio! Ricardo Lindemann lembra em um de seus discursos que “A causa de todo sofrimento, a causa de todo mal é a ignorância.” E ele completa: “Então nada pode ser mais importante do que algo que nos liberte do sofrimento. Sem conhecimento como vamos nos libertar?”.
Às vezes a própria vida te coloca um desafio, um momento de crise, uma doença, uma tragédia, uma perda e não temos outra escolha senão encarar o desafio... então que este desafio seja um momento de crescimento de renovação, de auto avaliação e de mudanças positivas. 


Mas para saber o que precisa ser mudado só existe um caminho a percorrer o do AUTOCONHECIMENTO


Meus vinte e poucos anos...  Chapada Diamantina- Bahia - Cachoeira da Purificação


Quanto eu tinha uns vintes e poucos anos, durante uma das vivências de autoconhecimento que eu frequentei tirei na sorte estas palavras: “conhece-te a ti mesmo”. Era a primeira vez que eu ouvia aquelas palavras pinçadas da frase do oráculo de Delfos escrita pelos setes sábios há mais ou menos 650 anos antes de Cristo que diz: “Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo.


Confesso que não era exatamente o que queria ouvir. Fiquei frustrada. Mas eu me conheço, pensei! Na verdade eu queira uma resposta concreta, uma resposta pronta para as questões que eu tinha no momento e ele me mostrou um caminho a percorrer... nunca me esqueci disso! Hoje, a beira de completar meus quarenta e poucos anos, eu entendo que esta é a única resposta possível quando falamos de crescimento pessoal e de evolução da humanidade!


Não existem respostas prontas. Na verdade não existe um mapa ou um único caminho a seguir. A vida é um projeto individual e único para cada um. Neste projeto construímos nossas historias, baseadas nas nossas escolhas de ordem moral, ética e nossas influências familiares e culturais. Durante nosso percurso nós podemos ou não evoluir a partir de nossos erros, podemos ou não melhorar nosso modo de ser, pois tudo isso faz parte de nossas decisões pessoais, nosso livre árbitro. Na verdade só crescemos quando nos dispomos a isso. 


Uma das coisas que aprendi nestes dias, e a que mais me surpreendeu, foi quando entendi que “A verdadeira luta não é entre o bem e o mal; a verdadeira luta é entre a sabedoria e a ignorância.” A princípio eu quis contestar, o que é natural em todo ser humano quando um de nossos paradigmas é posto em cheque. Mas depois me pus a pensar...


Para nós criados no cristianismo é mais fácil compreender através da historia de Jesus. Em uma de suas conhecidas falas Jesus disse: “vade de retro satanás.” Em outras palavras, vai atrás, recue. O que nos faz concluir que Jesus não veio acabar com o mau. Ele não veio lutar contra o mau, se fosse assim sua missão teria sido um fracasso. O que não é verdade. A missão de Jesus foi espalhar conhecimento para que possamos discernir; para que possamos decidir entre praticar o bem ou o mau; para que possamos decidir entre julgar nossos semelhantes ou aceitar suas escolhas diferentes; entre discriminar as pessoas ou acolhê-las; entre destilar o ódio ou espalhar o amor. 


Ele veio para mostrar como se faz. Não com palavras vazias, mas com ações concretas. E, apesar de hoje existirem tantas pessoas repetindo suas palavras, poucos se preocupam em seguir seus passos. A maioria está preocupada apenas com a aparência. E cada vez mais temos visto grupos religiosos se fecharem em ciclo e se distanciarem uns dos outros acirrando as disputas entre dogmas e religiões; entre certos ou errados;  entre puros ou impuros. E cada um querendo provar que o seu Deus é o mais poderoso. E poucos interessados em se encantar com a riqueza e a diversidade das moradas do Pai...

Espace pour la vie- Jardin botanique de Montreal


Nas palavras do filósofo grego Aristóteles:  "O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete."



Um autor desconhecido escreveu uma frase que tem muito haver comigo. E é com ela que vou terminar meu texto de hoje:
Não vim a este mundo para competir com ninguém. Quem quiser competir comigo perde seu tempo. Estou neste mundo para competir comigo mesma. Ultrapassar meus limites, vencer meus medos, lutar contra meus defeitos, superar dificuldades correr em busca dos meus objetivos. E tudo isso já me ocupa bastante tempo...”  




E que assim seja para todos que tem coragem suficiente para libertar de sua ignorância!







Ps.: Sabedoria no dicionário: dom que nos permite discernir qual o melhor caminho a seguir, a melhor atitude a adotar nos diferentes contextos que a vida nos apresenta. E ignorância do latim “no saber”. Ignorante é aquele que ignora que não tem conhecimento. A ignorância se refere à falta de sabedoria e instrução sobre determinado tema, ou ainda à crença em elementos amplamente divulgados como falsos.  


Se você  chegou até aqui e perdeu alguns minutos para ler o que eu escrevi mais uma vez, ou pela primeira vez, meu muito obrigada!... Obrigada por me escutar. Obrigada pelo seu tempo e pelo seu carinho... e que o dia do meu e do seu aniversário (seja quando for) seja sempre motivo de comemoração e de alegria!


Para quem se interessa pelo assunto autoconhecimento e busca da felicidade, veja a seguir o trailer do filme "Eu Maior" : 




Para ver o filme completo clique aqui:
EU MAIOR




25 fevereiro 2014

O PROCESSO de IMIGRAÇÃO e meus adeuses...



Os últimos dias que antecederam a viagem foram exaustivos... só quem já mudou sabe como é estressante e complicado organizar as malas, separar o que vai levar, desfazer do que não precisa, encaixotar o que ainda não quer se desfazer e tentar achar espaço na casa de algum parente (normalmente nossos pais) para armazená-las. Juntando a isso ainda a difícil tarefa de dar um até logo aos amigos, parentes, colegas...   

e ir deixando cada dia seu coração entre a expectativas da nova vida e a tristeza da separação...

minha filha Luiza e algumas de nossas malas
 
Foram quase três anos de preparativo, nada fácil esperar tanto tempo para concretizar um plano. Como brasileira temos a cultura de querer tudo pra ontem, anteontem se possível. Fazer planos em longo prazo ainda é um aprendizado. E este foi o primeiro entre tantos outros que se seguiram com a imigração.


Fiquei sabendo da possibilidade de imigrar legalmente para o Canadá numa conversa informal com uma de minhas irmãs. Na época cansada de como as coisas caminhavam na minha vida e no Brasil em geral eu procurava soluções alternativas. Cheguei (chegamos, eu e meu marido) até a cogitar ir para os EUA por um tempo para avaliar as possibilidades de trabalhar ilegalmente. Parecia fácil e atrativo ganhar dinheiro na América. A ideia veio, pois todas minhas irmãs moram lá e este tal “sonho americano” vendido pela indústria hollywoodiana às vezes é muito tentador... 


Em geral do Brasil só vemos as vantagens de morar fora, não vemos os perrengues, as humilhações e todo o lixo que vem junto quando se é considerado um contraventor da lei.  Muitas pessoas fazem isso, sei que é uma ideia que se compra fácil e parece até normal... mas não é legal! Literalmente. 


Na verdade é muito comodo dizer isso, quando se tem (ou se pode ter) outras opções. Mas acredito antes de tudo, que cada um deve ser consciente de suas escolhas e todas as consequências que vem com ela. Do meu lado, não julgo nem condeno ninguém que tenha tomado esta decisão, ao contrário, acho compreensível. Mas logo vi que não queria aquela realidade para mim, pelo menos não nesta altura da minha vida. 


Eu já não era tão jovem e inconsequente para correr certos riscos, nem para me sujeitar a qualquer coisa. Queria antes de tudo uma vida justa, digna! No sentido literal da palavra. Viver na ilegalidade por mais que a ideia pareça atraente, a contrapartida pode ser assustadora e eu não me achava numa situação crítica para aguentar qualquer coisa que viesse.   


Então não achei que seria apropriado correr o risco apesar da vontade e da facilidade que (talvez sim, talvez não) poderia ter vivendo perto das minhas irmãs, que ao contrário do que seria minha situação, vivem de forma legal no país.



Descartamos a ideia e seguimos com nossas pesquisas. Já tínhamos ouvido falar da possibilidade de imigração legal para Austrália e fomos checar. Enquanto discutíamos as possibilidades e queimávamos os miolos tentando achar uma solução, surgiu à possibilidade de imigrar para o Canadá e esta possibilidade parecia bem real e atraente.



BABYS BOOMMERS


O Canadá é um dos poucos países do mundo que tem o processo de imigração aberto. Ou seja, ele não só aceita como muitas vezes convida as pessoas a morarem lá. Mas claro, impões suas condições. 


O problema do Canadá é que sua população esta envelhecendo e a taxa de natalidade, como em outros países do primeiro mundo, esta em declínio. Então uns dos argumentos usados pelo governo para continuar com a imigração no país é que eles precisam de mão de obra jovem para repor o mercado de trabalho quando a geração conhecida como os “baby boomers” se aposentarem.  Será então a mão de obra importada que irá suprir a defasagem no mercado de trabalho do país fazendo com que a economia continue a girar e que a população cresça.  

Nossos dossiês e algumas informações sobre o Canada e o Quebec

Baby boom significa “explosão de natalidade” e é o nome dado ao grande aumento populacional acontecido após a segunda guerra mundial (entre 1943 e 1964). Em resumo são os filhos nascidos de famílias numerosas, aqueles indivíduos que foram jovens durante as décadas de 60 e 70.  
 


Entusiasmados, fomos direto ao site do governo. O site falava sobre o processo de imigração da província do Quebec que naquele momento concentrava esforços para angariar adeptos no Brasil. A primeira coisa que fizemos foi responder ao questionário que avaliava nossas possibilidades de imigração. 


Fizemos varias tentativas até descobrirmos o que precisávamos melhorar para garantir nossa vaga no processo. 



Escolaridade, ok. Profissão, ok. Experiência profissional, ok. Idade,ok. Filhos, ok
Língua francesa, zero! Inglês básico, praticamente zero!   (e etc..)


No processo de imigração tudo é uma questão de pontuação. Às vezes você não marca ponto em uma coisa, mas marca em outra e no final o que importa é se você consegue pontuar o mínimo para entrar com o processo. No meu caso, o Daniel tinha algumas vantagens na pontuação então ele ficou sendo o titular do processo. 


Para quem está lendo isso e pensa também em imigrar, leia mais aqui: IMIGRAÇÃO QUEBEC- informações gerais.
  



PARA SEMPRE



Eu e papai no dia do meu casamento
Deste dia em diante quase tudo na minha vida foi planejado em função deste projeto; mudei de cidade, de emprego e de vida. Casei e comecei a estudar francês. Dia após dia a mudança ia sendo alimentada e construída. 


Houve percalços, muitos, mas nada que me tirasse a vontade de construir uma vida nova.


Enquanto nós nos esforçamos para aprender uma nova língua, a vida continuava e não pedia licença para andar a revelia. 


Logo após meu casamento, nos primeiros dias de nossa volta a Belo Horizonte, ainda sentido o cheirinho de vida nova, a vida deu seu primeiro sinal vermelho.


Meus pais foram passar uns dias conosco pra fazer uns exames médicos, pois estavam com passagem comprada para visitar minhas irmãs nos EUA e queriam se certificar que tudo andava bem com a saúde. Seriam apenas alguns dias, mas quis o destino que a historia não fosse contada apenas com alegrias.


Meu pai, que já tinha se curado de um câncer e estava mais entusiasmado do que nunca com a vida descobriu uma metástase no músculo da coxa esquerda, mesmo lugar de antes. Era um  Sarcoma mixóide de alto grau, profundo localizado em plano muscular esquelético, provavelmente um lipossarcoma dizia o diagnóstico. Para mim um câncer horroroso que tinha que ser logo retirado! E claro, ele teria que fazer uma cirurgia para saná-lo antes de prosseguir com seus planos. 


Alguns meses se passaram e com a passagem adiada ele segue para o que foi o seu calvário. Dele e o meu... e da minha família. A cirurgia foi realizada e ele voltou para o nosso apartamento para se recuperar, mas algumas complicações apareceram... e entre idas e vindas ao hospital dois anos se foram. Sendo que no ultimo ano ele permaneceu por oito longos meses deitado a cama no CTI do hospital. Nunca fez a viagem tão planejada, nem passou o natal com as filhas como queria... não voltou a sua cidade, não se despediu dos amigos, dos companheiros. Não viu pela ultima vez sua tão querida fazenda que vezes ou outra em delírio (nos últimos tempos, já usando morfina) conversa com algum funcionário e mandava fazer alguma coisa.


É... tem horas que a vida não nos dá escolhas.


E foi a primeira vez que eu passei por tão grande dor!


Consegui um trabalho de corretora no Villa da Serra, mesmo bairro do hospital, para ficar mais perto dele. Vez ou outra no trabalho eu me pegava pensando sobre a vida e olhando o prédio onde ele estava hospitalizado. Era uma região bonita, do seu quarto do hospital, através da janela eu via o loteamento dos prédios em que trabalhava e pensava como rapidamente o verde iria dar lugar ao concreto. Assim como a vida um dia poderia dar lugar à morte. 
Eu e papai no meu baile de quinze anos


As coisas andavam as avessas, meu relacionamento com minha mãe não estava dos melhores. Gênios diferentes, opiniões diferentes... mas  enfim a verdade é que cada pessoa reage ao sofrimento de uma forma e nada pior que levá-lo para o relacionamento com os outros. Meu pai ainda tinha força para tentar amenizar a situação, era o que nos unia. Mas ainda assim, com o tempo minhas visitas se espaçaram no mesmo ritmo que minha dor crescia... 


No final eu estava indo uma vez por semana e deixava as visitas diárias para minha mãe e as irmãs do papai, em especial a tia Maria Amélia que não faltou um dia sequer. 


Meu pai também pertenceu à geração dos “babys bommers”, ele era o sexto dos seus quinze irmãos. A família se espalhara entre o sul, e sudeste do país, especialmente em Minas nas cidades de Boa Esperança e Belo Horizonte.


Ele adorava esta grande família e também queria ter tido uma família grande com a mamãe, mas se contentou em parar depois da quarta filha, mais para agradar a mamãe do que por vontade própria. Ele dizia que queria ter um time de futebol, no que nos rebatíamos que ele havia quase conseguido um time de vôlei feminino, então poderia se dar por satisfeito. 


A relação com o pai é muito importante para os filhos, mas especialmente importante para as filhas. Lá em casa foi assim; cada filha desenvolveu uma relação de afeto diferente com ele para garantir seu espaço no coração do papai. Meu pai era generoso, às vezes engraçado e também muito amável. 


Difícil quem não gostasse dele. 


Era empreendedor e sempre estava envolvido nos assuntos da cidade, especialmente os referentes à Cooperativa Agropecuária e o banco dos cooperados. Quando jovem junto com alguns amigos da cidade ajudou a construir o novo Cube social. Era idealista, otimista e realizador.  Defeito tinha, mas infinitamente pequenos se comparado ao tamanho do seu coração.


 Nascimento e morte os dois oposto da vida.  Eu <3 Papai
Com meu pai eu não precisava de meias palavras, ele me conhecia, sempre fui faladeira, (não fofoqueira!) gosto de me expressar com palavras e gosto da sinceridade também e ele me entendia. Às vezes um olhar, e seu pensamento eram palavras na minha cabeça. Foi assim que me despedi dele alguns dias antes da sua morte. Foi numa tarde de quinta-feira. Sai do trabalho e passei no hospital, conversamos em pensamento e eu ainda não sabia (ou não queria saber), que aquela seria a ultima vez que trocávamos um olhar e que seria seu adeus...


Foi com muita dor e tristeza que soube da sua partida.
Uma memória que ninguém perde é a dos momentos que precedem a noticia da perda de um ente querido.


Aqueles foram tempos muito sofridos, ele estava sofrendo e eu também. Estávamos todos sofrendo. Seria tão fácil entender a morte a partir disso, mas na realidade não existe nada fácil quando o assunto é morte. O pra sempre, sempre assusta.


Ver alguém que você ama sofrer nos adoece... e eu desenvolvi uma curiosa alergia que se espalhou pelo corpo inteiro. Sem cura e sem explicação, a única achada se chamava estresse.  É difícil ter serenidade e aceitação diante da morte, principalmente quando é a primeira vez que se entra em contato com ela na sua casa. E eu demorei muito tempo pra me recuperar desta perda.


No primeiro ano da doença do papai e ainda com total convicção do seu restabelecimento nós (eu e meu marido) enviamos os papéis para dar entrada ao pedido de imigração. Papai acompanhou nossas primeiras pesquisas e nos apoiou em nossa decisão. Ele estava satisfeito com meus planos achava que eu me sairia bem e torcia muito para a minha felicidade. Acho que o sonho e a alegria de todo pai é ver o filho ter sucesso na vida, não era diferente com o meu.



ENTREVISTA


Apesar do nosso francês ainda estar meio rasteiro, enviamos os documentos para o consulado do Quebec, que nesta época era na Argentina. Pensamos que o tempo que levaria para analisarem nosso processo seria suficiente para dar uma melhorada no idioma. Foi no final do ano de 2007. No ano seguinte, devido a quantidade de interesse dos brasileiros no processo eles abriram escritório em São Paulo, permaneceram lá alguns anos, depois se mudaram para o México onde o escritório esta até hoje.

Com a mudança do consulado da Argentina para Brasil recebemos um aviso sobre o atraso nas análises dos processos. E a espera foi longa. Só recebemos a correspondência com o pedido para a entrevista uns seis meses depois e a data agendada para dali mais alguns meses. 


Há muito tempo o interesse pela língua francesa havia diminuído no Brasil assim como no resto do mundo, então foi fácil encontrar outras pessoas com objetivo em comum dentro das poucas escolas existentes na cidade. Através de um destes amigos que fizemos, ficamos sabendo de um grupo que havia se formado para trocar  informações sobre o Quebec, a imigração e praticar o idioma. Este grupo se chamava “QUOI!?” 

Juntamo-nos a eles e começamos a frequentar as reuniões e a participar dos encontros semanais. Tudo era muito novo para todos nós. Não éramos os primeiros a ir, mas a comunidade brasileira no Quebec ainda era muito pequena e de alguma forma aquele grupo foi se tornando a esperança de apoio, solidariedade e conforto num mundo ainda tão desconhecido. 

 
Ao centro do grupo o quebecoise e palestrante M. Benoît no final de uma das conferencias para informação
O Quoi!? era pequeno, e as pessoas entravam através de convite. Ele foi nosso apoio, formamos um grupo sólido. Éramos pessoas desconhecidas com um mesmo objetivo; se tornarem amigas e se ajudarem. Algumas dessas pessoas são nossos amigos(as) até hoje. Outros seguiram caminhos diferentes ou foram morar em cidades mais distantes. É natural que depois do objetivo cumprido as pessoas tomem rumos distintos... unimos para nos sentirmos mais fortes. Certamente sem o grupo teríamos passado mais dificuldades. O grupo ainda existe, mas parece não ter o mesmo entusiasmo e a mesma força de antes.

O tempo se passou e seguimos para entrevista poucos meses após a morte de meu pai. O escritório de imigração do Quebec era situado no centro comercial de São Paulo e nós nos hospedamos a poucas quadras do local. 

Era época de formula 1 e a cidade estava cheia de torcedores. Lewis Hamilton foi o campeão do Gp de 2008 enquanto que o brasileiro Felipe Massa ficou em segundo lugar... ser vice campeão poderia até ser um excelente resultado mas nós não comemoramos, naquele dia, a vitoria era a única coisa que nos interessava. E definitivamente não foi um dia vitorioso para nós. Não receber o tão sonhado CSQ (certificado de seleção do Quebec).  

Sabe aquele dia que quase deu certo... mas não deu! Na verdade foi um pouco de má sorte eu acredito. Tivemos problema com o entrevistador que era muito estúpido e não conhecia muita coisa sobre os documentos do Brasil. Ele não aceitou por exemplo a carteira de trabalho como documento comprovante de ter trabalhado. Ele queria uma carta de admissão e rescisão de contrato. Isso provou uma grande confusão na nossa comunicação e nos desestabilizou.

Acompanhamos pela internet através de blogs varias reclamações do trabalho dele o que resultou na sua saída e a retomada dos processos que estavam com ele por outros profissionais. Mas enfim, a falta de amabilidade do entrevistador acabou comprometendo nossa entrevista e eu em pânico, realmente quase não consegui falar nada. Deu branco! Eu tentava, mas só saiam frases truncadas. O Daniel, que era o requerente principal, também não foi nada bem. Realmente não era nosso dia de sorte!

A entrevista é feita com os dois (no caso do casal) e cada um tem que responder as questões e mostrar os documentos. Em geral o entrevistador conversa e avalia os dois um de cada vez, começando pelo titular do processo. A entrevista é basicamente responder algumas questões sobre sua vida no Brasil, sua intenção na imigração e fazer a conferência dos documentos. Mas todo diálogo se dá em francês e/ou inglês, nadica de português! 

Ao final da entrevista ele nos disse que, apesar de nossos comprovantes mostrarem que nos fizemos uma quantidade suficiente de aulas, o nosso francês ainda não correspondia as expectativas e concluiu: vou dar uma chance a vocês porque a pontuação de vocês é boa, mas não vou dar o CSQ hoje. Voltem pra casa, estudem mais a língua francesa, façam o TCF-Q, (teste de conhecimento do Francês –Quebec, que na época ainda não era uma exigência) e depois de um ano marquem uma nova entrevista para eu reavaliá-los.
Um dos inúmeros encontros promovido pelo grupo QUOI!? - Este dia despedida de um dos membros que partiria para Quebec


Estas palavras soaram como a de um juiz nos condenando a prisão perpétua onde a clemência estava em nos aliviar da pena de morte.


Imagina o banho de água fria!.. Tenho certeza que ficamos mais decepcionados do que o Massa que mesmo ganhando a corrida naquele dia em São Paulo, não levou o pódio.


Voltamos para casa desolados... 


Eu parecia ter alcançado o fundo do poço! Havia perdido o pai, agora a entrevista, não ia nada bem no trabalho e ainda andava me aborrecendo com a família da minha filha (que é fruto de outro relacionamento anterior ao meu atual marido).


Nesta situação, abandonei o estudo da língua francesa e não participei mais das reuniões do QUOI?!. Mas não sem antes passar as informações sobre o que acontecera na nossa entrevista, pois fomos uns dos primeiros daquele do grupo a fazê-la naquele ano, e não queríamos que acontecesse o mesmo com eles. 


Depois de nós, ninguém teve problema, ninguém passou pelo mesmo entrevistador e um a um, todos os nossos colegas de imigração foram passando na entrevista e seguindo seu caminho. Nenhum foi reprovado!




MUDARAM-SE AS ESTAÇÕES...


Neste tempo minha mãe finalmente conclui a viagem que havia planejado com o papai e foi passar uma temporada, incluindo natal e ano novo, nos EUA com minhas irmãs. Em casa e na minha rotina eu ia tentando curar minhas dores e cicatrizar minhas feridas.



Passaram-se mais de seis meses até eu querer novamente tentar fazer o tal teste de francês. Em julho do ano seguinte, próximo de completar um ano da primeira entrevista, resolvi retomar o caminho. Contratamos então um professor particular e estudamos com afinco. 


CSQ- Certificado de Seleção do Quebec

Prova do TCF-Q marcada para uma terça-feira e na semana anterior liga a secretária do escritório de imigração perguntando se ainda estávamos interessados no processo, pois ela queria marcar uma nova data para outra entrevista já na semana seguinte.  Ficou então combinado que seria quinta-feira da semana seguinte às 11:15h da manha. E assim foi. Prova de conhecimentos em francês ( TCF-Q ) na terça e entrevista  por telefone para conseguir de vez ou descartar para sempre o CSQ - certificado de seleção do Quebec, na quinta. 



Onze e quinze em pila o telefone tocou, era a entrevistadora. Daniel estava posicionado estrategicamente com todos os documentos em mãos. Ela, desta vez foi uma mulher, falou apenas com ele. Ela apenas confirmou se ele ainda continuava interessado no processo e conferiu alguns dados. A conversa não durou mais de 5 minutos. No final ela disse que ele iria receber a resposta dali uma semana. E foi exatamente assim!



Um telefonema meio misterioso e uma semana de angústia... até recebermos pelo correio a confirmação de seleção. Enfim conseguimos!!!



O próximo passo foi fazer os exames médicos e enviar o passaporte e os documentos para o processo federal. E assim chegamos à etapa final.



No início do ano seguinte voltei pra Luz com minha filha a pedido de minha mãe para ajudá-la a mudar a decoração e a reformar algumas coisas na casa. Meu marido, Daniel veio alguns meses depois. 


Enquanto eu planejava e executava a reforma da casa da mamãe ia praticando a difícil tarefa de me despedir. 



MEUS MUITOS ADEUSES...



Dediquei meus últimos meses no Brasil para passar com minha família. Com uma família grande e alguns tios ou tias doentes meu prazer era ajudar ou simplesmente fazer companhia. Passei varias tardes conversando com uma tia querida que estava com um câncer de pulmão... riamos, conversamos, contávamos casos, lembrávamos de historias antigas. Fomos tão grandes amigas, nos emocionamos juntas tantas  vezes que nem sei se eu alegrava ela ou se era a companhia dela que alegrava minha vida. E entre a reforma da casa da mamãe, a nova decoração da casa da minha tia, as idas e vindas à Belo Horizonte, Divinópolis e adjacências eu ia dividindo meu tempo. 



Por uma triste coincidência este foi um ano de muitas perdas. Muitos adeuses para sempre! 

Um dia acordei com o telefonema de uma tia que estava com seu marido no hospital. Ela, irma mais velha da mamãe, era nossa vizinha no interior e no telefonema dizia que naquela noite seu marido havia passado muito mal. Como de hábito mamãe se prontificou para ir ao hospital, eu me troquei e corremos para ficar perto deles e ajudar no que fosse necessário. 

Chegando no Hospital eu sentei ao lado da cama dele e me pus a observá-lo enquanto divagava sobre a vida. Meu tio, deitado no leito branco, já era mais velho e estava com alzheimer. Minha tia me deixou ali fazendo companhia a ele enquanto se refazia no banheiro, da noite mau dormida. Minha mãe, aproveitou para dar um pulinho na capela, fé é uma qualidade que não lhe falta!

Inexplicávelmente vi quando meu tio deixou o corpo, difícil por isso em palavras, mas para mim certamente foi uma cena marcante da qual nunca me esquecerei.

Levantei da minha cadeira e coloquei a mão sobre o seu peito. Sabia que tinha sido o seu ultimo suspiro então corri até a porta e chamei por um medico que confirmou. Eu me compadecia da dor da minha tia mas sabia que ele havia descansado.


A esta morte, outras se sucederam. E descobri que nenhuma dor substitui a outra...


Dias depois perdi outro tio, irmão da minha mãe, e no mesmo dia do seu velório, seu filho que havia se hospitalizado uma semana antes, faleceu. Duas mortes, uma seguida da outra...

Poucos meses depois e eu fico sabendo que uma tia, esta por parte do meu pai, descobriu um câncer. Infelizmente para nós a doença não lhe deu três meses de vida. Uma tia tao querida! Que tantas vezes tao bem nos recebeu em sua casa durante as ferias ou feriados. Um tia incrivelmente culta e educada que tantas vezes tao carinhosamente cuidou de mim...
  ...

Eu já tinha passado por varias experiências com a morte. Meu avô morreu poucos meses depois que eu nasci. Ainda bebê um acidente de carro matou uma irmã da mamãe e quatro dos seus filhos. Perdi uma grande amiga aos dezessete anos, vários primos, tios queridos, minhas avós antes mesmo de eu entrar na juventude. Mas este ano parecia ser dedicado a morte.

Família grande e cidade do interior são duas coisas que juntas se torna quase impossível não passar por  uma experiência de morte que te desestruture. Aprendi uma coisa, ninguém mede a dor do outro, porque coração é solo desconhecido e a gente não sabe a profundidade dos sentimentos que as pessoa guardam lá. E outra coisa, ninguém continua o mesmo depois de uma experiência com a morte. Se tem uma coisa que a morte ensina, é sobre a vida.

Eu sempre tinha muitos sonhos e me impressionava muito com o que via. Às vezes eu ficava com medo, às vezes tensa, às vezes triste... mas as vezes também sentia que estava sendo aparada por anjos. Este foi um ano inesquecível! Às vezes eu não sabia se era o fim do meu mundo, ou o fim do mundo deles. Não  conseguia achar explicação para a triste coincidência que eu vivia entre a morte de meus familiares e a minha despedida do Brasil. Até o fim deste ano entre minha estada no Brasil e no Canadá eu perdi ao todo, para diversas doença, sete parentes, entre tios, tias e primos e posso dizer com certeza...

Um adeus para sempre definitivamente não é coisa que nós nos acostumamos.


Mas teve claro, muitos "até logo", gostosos, sinceros... A vida pode ser surpreendente, misteriosa, fúnebre, mas também muito afável, pura e simplesmente deliciosa!... O apoio da minha família e o carinho dos amigos foi tão vital quanto o ar que respiramos! E disso, não posso reclamar!


Entre lágrimas, divagações, expectativas e sorrisos seis meses se passaram e o passaporte com o visto de imigração chegou enquanto comemorávamos os primeiros gols da copa do mundo de 2010.


Alguns dias depois estávamos embarcando cheios de malas, esperanças, expectativas, promessas e uma enorme bandeira do Brasil  para ver a final da copa do outro lado do continente enquanto vislumbrávamos  uma vida melhor!


E no dia 9 de julho de 2010 depois de quase vinte quatro horas de ansiedade, o avião pousava tranquilo em Montreal onde à partir de então, depositaríamos os nossos projetos futuros!


Nos três durante um evento no Park Jean Drapeau - uma de nossas primeiras aventuras em Montreal